Guerra Rússia-Ucrânia

Análise

"Putin continua a ter grande domínio na opinião pública num país que não é livre"

O comentador da SIC Germano Almeida analisa a sondagem em que apenas 8% dos russos considera que Vladimir Putin é responsável pela morte de Prigozhin e a capacidade da Ucrânia realizar eleições.

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Uma sondagem que concluiu que apenas 8% dos russos acreditam que Vladimir Putin é responsável pela morte do líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, usou uma amostra de 800 pessoas num país que tem mais de 140 milhões de habitantes.

Para o comentador da SIC Germano Almeida, “é sempre preciso ter algum cuidado” com sondagens da Rússia, mesmo que sejam replicadas por outros órgãos internacionais. Isto, porque o presidente russo continua a manter um forte poder sobre a população.

Putin continua a ter um grande domínio, toda a narrativa do Kremlin, na opinião pública russa. Estamos a falar de um país que não é livre e isso é importante para nos lembrarmos que é também por isso muito relevante que todo o tipo de atos e mensagens que possam ajudar a opinião pública russa a perceber que está perante uma guerra são importantes”, explica o comentador.

Germano Almeida alerta ainda que "grande parte daquela população está sob propaganda tal que não tem a mínima noção do crime que as suas elites estão a cometer na Ucrânia”.

Futuro democrático da Ucrânia

Olhando depois para o futuro da Ucrânia, cujas eleições presidenciais estão agendadas para março do próximo ano, mas não se deverão realizar por se encontrar em vigor a lei marcial, o comentador da SIC considera que “não nos podemos esquecer que o país está em guerra e é sempre muito difícil imaginar que condições haveria para umas eleições nesta situação”.

Tanto que as legislativas estavam agendadas para outubro deste ano “e não vão acontecer pela mesma razão, pela questão da lei marcial”, que teria de ser alterada para que o processo eleitoral se realizasse. Além disso, no que à escolha do chefe de Estado diz respeito, não se esperaria grandes surpresas.

“Sabemos que tendo em conta o grande apoio que a população ucraniana dá a Zelensky enquanto mantiver a posição de resistir e de exigir a recuperação do território ucraniano, cerca de 88% dos ucranianos consideram que não se deve ceder nem um milímetro à Rússia, a perspetiva é de que numas eleições Zelensky ganharia com facilidade”, reflete o comentador.

Mesmo assim, o próprio presidente ucraniano reconhece que seria difícil realizar as eleições no prazo devido por questões financeiras.

“A Ucrânia assume que está a alocar todos os recursos que possa à sua defesa, por razões óbvias”, acrescenta Germano Almeida, lembrando que Zelensky, ao ser instigado pelo senador norte-americano, Lindsey Graham, a avançar para eleições independentemente da guerra, garantiu que o faria se os aliados ajudassem a sustentar o processo eleitoral, que custa “cinco mil milhões de euros”.

Ainda assim, Germano Almeida reconhece que “também é importante que a Ucrânia dê sinais das tais garantias democráticas que os próprios aliados têm vindo a exigir para continuarem a seu lado”.