Guerra Rússia-Ucrânia

Parlamento da Ucrânia aprova nomeação do novo ministro da Defesa

A nomeação foi aprovada por uma larga maioria, registando-se apenas uma abstenção. A substituição de Reznikov por Umerov foi proposta pelo Presidente Zelensky, depois de serem conhecidos vários escândalos de corrupção no país.

Parlamento da Ucrânia aprova nomeação do novo ministro da Defesa
Sergei Kholodilin

O Parlamento ucraniano aprovou esta quarta-feira a nomeação de Rustem Umerov como ministro da Defesa, em substituição de Oleksi Reznikov, noticiou a agência Ukrinform.

A nomeação foi aprovada com 338 votos a favor, nenhum contra e uma abstenção, segundo uma foto do quadro da votação divulgado pela agência ucraniana. A substituição de Reznikov por Umerov foi proposta pelo Presidente Volodymyr Zelensky no domingo à noite.

Zelensky alegou que o Ministério da Defesa precisava "de novas abordagens e novas formas de interagir com o Exército, bem como com a sociedade civil em geral".

A mudança do titular da Defesa ocorre três meses depois de as forças ucranianas terem iniciado uma contraofensiva contra as tropas russas, que ocupam 20% do país.

Recentemente, vieram a público vários escândalos de corrupção no país, um dos quais envolve diretamente Reznikov, relativamente a um contrato de fornecimento de material militar assinado com uma empresa turca.

"Foi uma honra servir o povo ucraniano e trabalhar para o exército ucraniano durante os últimos 22 meses, o período mais difícil da história moderna da Ucrânia", afirmou Reznikov na carta de demissão que ao parlamento.

Quem é Rustem Umerov?

A Ucrânia confiou o Ministério da Defesa, em pleno período de guerra com a Rússia, a Rustem Umerov, jovem gestor de origem tártara nascido na Crimeia e muçulmano, com boas relações com a Arábia Saudita e a Turquia.

Umerov, de 41 anos, antigo deputado e que exercia o cargo de diretor do Fundo de Propriedades da Ucrânia, foi nomeado no domingo pelo Presidente ucraniano, ministro da Defesa para substituir o advogado Oleksi Réznikov.

A nomeação de Umerov para dirigir o Ministério da Defesa pode ser interpretada como um sinal da importância que Kiev atribui à recuperação da Crimeia, e como um novo sinal da vontade de Zelensky de se aproximar do mundo árabe e, acima de tudo, da Turquia, para a qual os interesses tártaros são de grande importância nas suas relações com a Ucrânia.

O jovem político de origem tártara chega ao Governo proveniente do Fundo de Propriedades do Estado, órgão governamental que trata dos processos de privatizações na Ucrânia, um país minado por um problema endémico de corrupção, tendo sido nomeado para esse cargo em setembro do ano passado, apesar de não fazer parte do partido ou do círculo de confiança de Zelensky.

Rustem Umerov
UKRAINIAN PRESIDENTIAL PRESS SER

Entre 2019 e 2022, Umerov foi deputado na Verkhovna Rada (parlamento) ucraniana pelo partido centrista, liberal e europeísta Holos (Voz), que está na oposição nesta legislatura.

Umerov estudou Economia e Finanças e participou num programa para jovens líderes nos Estados Unidos. Antes de entrar na política, ocupou cargos de gestão numa empresa do setor das telecomunicações e em 2013 fundou a ASTEM, empresa própria de investimento em tecnologias de informação e comunicação.

A ASTEM também tem um fundo que trabalha para ajudar as vítimas da invasão russa, colaborando com governos e empresas de países como a Turquia e a Polónia em alguns dos seus projetos, desenvolveu programas para formar jovens com mentalidade cívica e liderança na Ucrânia e distinguiu-se pelo seu apoio à reivindicação dos direitos e à preservação da cultura dos tártaros da Crimeia, onde a família Umerov tem as suas raízes.

Este povo, originário da Crimeia, sofreu mais do que qualquer outro com a perseguição das autoridades imposta pela Rússia desde que Moscovo anexou esta península ucraniana em 2014.

Umerov, tal como muitos outros tártaros da Crimeia, nasceu no Uzbequistão, para onde a sua família foi deportada em 1944 por Estaline, e regressou à península com os pais após a desagregação da União Soviética na década de 1980.

STR

Durante muitos anos, foi conselheiro do líder histórico dos tártaros da Crimeia, Mustafa Dzhemilev, e copresidente da Plataforma para a Crimeia, uma iniciativa da Presidência ucraniana para mobilizar esforços, tanto na Ucrânia como no estrangeiro, para recuperar o controlo da península.

Tanto, após a anexação da Crimeia como depois do início da invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022, Rustem Umerov participou, diversas vezes, em negociações discretas com Moscovo, nomeadamente sobre trocas de prisioneiros e operações de retirada de civis.

Fez também parte da delegação ucraniana para as negociações com a Rússia que, com o patrocínio da Turquia e da ONU, permitiram a criação de um corredor marítimo para a exportação dos cereais ucranianos pelo mar Negro, num acordo entretanto abandonado por Moscovo.

O facto de pertencer a um povo turco de religião muçulmana ajudou Umerov a construir laços estreitos com as autoridades e o tecido empresarial e político de países como a Turquia e a Arábia Saudita.

Nos seus anos como deputado, o político ucraniano destacou-se pela intensa atividade legislativa e integrou o grupo de relações com as câmaras destes dois países.