Guerra Rússia-Ucrânia

Análise

Compreender o conflito: a Ucrânia avança, finalmente

As tropas de Kiev tiveram ganhos a Sul, no oblast de Zaporíjia -- veremos se a ponto de poderem atingir Tokmak. Drones ucranianos atingem quase diariamente solo russo. A Ucrânia está na ofensiva, a Rússia em gestão e na habitual narrativa de inversão. Até quando? Análise do comentador da SIC, Germano Almeida.
Compreender o conflito: a Ucrânia avança, finalmente
OLEG PETRASYUK/REUTERS

1. Stoltenberg garante que a Ucrânia está a "ganhar terreno" com a contraofensiva

O secretário-geral da NATO está em crer que a Ucrânia está a “ganhar terreno” com a contraofensiva. “Os ucranianos estão gradualmente a ganhar terreno”, disse Stoltenberg no Parlamento Europeu. "Conseguiram romper as linhas defensivas das forças russas e estão a avançar".

2. Eurodeputados criticam NATO sobre Ucrânia

Um grupo de eurodeputados criticou as declarações do Secretário-Geral da NATO sobre a guerra na Ucrânia, a falta de atenção dada a outras partes do planeta e a redefinição da estratégia para a China. Jens Stoltenberg participou na reunião do Comité de Negócios Estrangeiros do Parlamento Europeu e a maioria dos eurodeputados criticou a maneira como a NATO está a gerir a invasão russa. A eurodeputada irlandesa Clare Daly, do grupo político The Left , disse que as declarações de Stoltenberg sobre o progresso da Ucrânia na contraofensiva estão erradas: “Isso não é verdade. A Ucrânia perdeu território, meio milhão de homens [militares] morreram, há homens a pagar para sair do país, outros escondidos em casa… Esta é agora uma guerra de atrito e é cruel continuá-la”. O eurodeputado polaco Witold Jan Waszczykowski, dos Conservadores e Reformistas Europeus, considerou que a cimeira da NATO em Vilnius “foi boa, mas não foi tão boa quanto a de Varsóvia” (2016), e que não houve decisões concretas, nomeadamente para aumentar o número de tropas da Aliança Atlântica no flanco leste e que “não há um comando regional da NATO” para defender o território que está mais próximo da Rússia. Já o espanhol Antonio López-Istúriz White, do Partido Popular Europeu, pediu mais atenção para o flanco sul e para a atividade de organizações que estão a operar em África, aludindo à presença do grupo mercenário Wagner naquele continente e cuja estabilidade geopolítica está a deteriorar-se. A crítica mais dura chegou pela intervenção do eurodeputado Mick Wallace, do The Left, que considerou que o secretário-geral da Aliança Atlântica “ridicularizou” o plano de paz apresentado por Pequim, em fevereiro: “Disse que a China não tem credibilidade”. Wallace condenou o “imperialismo ocidental” dos Estados Unidos que a NATO acompanha, nomeadamente a redefinição da estratégia para a China — que a União Europeia também quer reenquadrar.

3. G20: Biden sim; Xi e Putin não

A Índia acolhe a cimeira do G20 e Joe Biden será a presença mais notória. Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, também estará presente, mas Xi Jinping e Vladimir Putin vão primar pela ausência. O Presidente dos EUA tentará beneficiar da ausência dos homólogos chinês e russo para reforçar as suas alianças dentro do bloco fortemente dividido. Na reunião de dois dias em Nova Deli, as fortes divergências sobre a guerra na Ucrânia, a eliminação progressiva das energias fósseis e a restruturação de dívida deverão dominar os debates e impedir qualquer acordo do grupo, que agrega as 19 maiores economias do mundo e a UE. Joe Biden falará de “uma série de iniciativas conjuntas para enfrentar os problemas globais“, nomeadamente as alterações climáticas e “mitigar as consequências económicas e sociais da guerra travada pela Rússia na Ucrânia”, declarou o conselheiro para a Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan. Xi Jinping não participará na cimeira, que decorre numa altura em que se exacerbam as tensões comerciais e geopolíticas com os Estados Unidos e a Índia, com a qual a China partilha uma longa fronteira de traçado contestado. Uma Declaração dos Líderes do G20 será adotada na conclusão da Cúpula de Nova Delhi; Países Baixos, Espanha, Nigéria, Egito e Emiratos Árabes Unidos entre os convidados deste ano.

4. G20: cinco sextos da riqueza e três quartos do comércio mundial

O bloco representa atualmente 85% do produto interno bruto global, 75% do comércio internacional e cerca de dois terços da população mundial. Dos 85% - 25.5% EUA, 18% China, 7.8% UE sem as três maiores, 4% Alemanha, 3,4% Índia, 3% Reino Unido, 2.8% França, 2,2% Rússia, 2% Canadá, 2% Itália.

O tema deste ano deriva da frase sânscrita “Vasudhaiva Kutumbakam” (o mundo é uma família). A frase destaca o “valor de toda a vida humana, animal, vegetal e microorganismos – e sua interconexão no planeta Terra e no universo mais amplo”. O tema em inglês diz: “Uma Terra, Uma Família, Um Futuro”. O evento também terá como foco a LiFE (Missão Estilo de Vida para o Meio Ambiente), “com as escolhas associadas, ambientalmente sustentáveis e responsáveis”.

5. Guterres pede garantias para exportações de cereais ucranianos

O Secretário-Geral das Nações Unidas quer "garantias mútuas" por parte da Ucrânia e da Rússia para que seja possível retomar a iniciativa do Mar Negro e exportar cereais com origem na Ucrânia. Guterres disse que a ONU está “profundamente empenhada em retomar a iniciativa do Mar Negro”, que permitia a exportação de cereais da Ucrânia, mas que são necessárias “garantias mútuas”. “Ao contrário do que foi dito recentemente, continuamos ativamente empenhados especialmente em aspetos como o acesso da Federação Russa aos mercados financeiros e outros aspetos para facilitar as suas exportações. Estamos a fazer esforços para restaurar um ambiente em que podem ser dadas garantias mútuas para a solução do problema”, apontou Guterres. As dificuldades que enfrentamos para ter a boa vontade de outros parceiros à volta do mundo aumentam dramaticamente quando a Federação Russa bombardeia portos e armazéns de cereais, porque isso cria a dúvida se a Rússia está ou não preparada para retomar a iniciativa do Mar Negro. E isso cria alguma resistência noutros países. A maioria das exportações da Ucrânia foram para países em desenvolvimento, ainda que uma parte importante para países desenvolvidos.”

6. EUA alertam: Rússia vai manipular resultados das eleições nas 4 regiões anexadas

John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, avisou numa conferência de imprensa esta quarta-feira que a Rússia vai “obviamente” manipular os resultados das eleições nas regiões anexadas de Kherson, Lugansk, Donetsk e Zaporíjia. De acordo com Kirby, os EUA têm “informações” que indicam que o Kremlin tem planos para “fabricar os resultados eleitorais” nestes territórios. Estas serão as primeiras eleições nas regiões depois de serem anexadas pela Rússia em setembro do ano passado, no seguimento de um referendo assinado por Putin que não recebeu qualquer reconhecimento da Ucrânia ou da comunidade internacional. Vão realizar-se a 10 de setembro.

7. Zelensky pede transparência e confiança ao novo ministro da Defesa

O Presidente da Ucrânia pediu esta quinta-feira transparência e confiança ao novo ministro da Defesa, Rustem Umerov. "O mais importante é a transparência e a confiança. A confiança é a nossa principal arma nesta guerra", disse o chefe de Estado ucraniano, que nomeou Umerov após o cessar de funções de Reznikov como titular da pasta da Defesa.

8. Reino Unido impõe sanções contra 11 membros de um grupo russo de hackers

O Reino Unido impôs sanções contra 11 pessoas ligadas a um grupo russo de hackers, suspeito de vários crimes cibernéticos. “Esses criminosos cibernéticos prosperam no anonimato, movendo-se nas sombras da internet para causar o máximo impacto e extorquir dinheiro das suas vítimas”, disse James Cleverly, ministro dos Negócios Estrangeiros britânico. “Ao expor as suas identidades, estamos a perturbar os seus modelos de negócio e a tornar mais difícil que atinjam as nossas pessoas, os nossos negócios e as nossas instituições”, acrescentou o MNE do Reino Unido.

9. Líderes do Sudeste Asiático terminam cimeira com apoio à soberania da Ucrânia

A Associação das Nações do Sudeste Asiático reafirmou o respeito pela soberania, a independência política e a integridades territorial da Ucrânia. “Sublinhámos a importância de uma cessação imediata das hostilidades e de um empenhamento sério num diálogo genuíno para a resolução pacífica do conflito”, disse a ASEAN na conclusão da 43.ª Cimeira da organização. Os líderes presentes em Jacarta também apoiaram os esforços do secretário-geral da ONU, António Guterres, para encontrar uma solução pacífica para o conflito.

10. Rússia e China minam democracia em África e elevam cleptocracia

Um relatório do Fórum Internacional de Estudos Democráticos aponta que o governo chinês e os seus representantes estão entrincheirados em redes corruptas em África, ajudando a encorajar e capacitar os cleptocratas locais que procuram enriquecer à custa das suas populações. O documento aponta que a Rússia e a China têm reforçado as redes cleptocráticas em África e minado a democracia nesse continente, com destaque para o papel do grupo Wagner nesse processo. De acordo com o relatório, o motim de curta duração levado a cabo pelo grupo Wagner em junho na Rússia "colocou em evidência um dos obscuros tentáculos globais da influência da Rússia". "Numa altura em que Moscovo está cada vez mais isolado diplomaticamente e economicamente, os interesses comerciais corrosivos do grupo Wagner e as relações acolhedoras em partes de África - com alguns dos regimes mais diplomaticamente isolados do continente - revelam até que ponto uma rede global de apoio cleptocrático tomou forma".