Guerra Rússia-Ucrânia

Ucrânia: Partido de Putin venceu eleições nas regiões ocupadas, garante a Rússia

Os resultados provisórios foram divulgados numa altura em que as autoridades russas tentam reforçar o controlo sobre os territórios que Moscovo anexou ilegalmente há um ano e que ainda não controla totalmente.

Ucrânia: Partido de Putin venceu eleições nas regiões ocupadas, garante a Rússia
ALEXANDER ERMOCHENKO

A Comissão Central de Eleições (CCE) da Rússia afirmou, esta segunda-feira, que o partido no poder ganhou a maioria dos votos nas eleições realizadas ao longo da semana passada nas regiões ucranianas ocupadas. A União Europeia (UE) condenou veementemente a realização destas eleições, apelidando o sufrágio de uma "tentativa fútil" de Moscovo de normalizar a invasão e alertou que haverá consequências.

Os resultados provisórios foram divulgados numa altura em que as autoridades russas tentam reforçar o controlo sobre os territórios que Moscovo anexou ilegalmente há um ano e que ainda não controla totalmente.

A votação para as legislaturas instaladas pela Rússia começou na semana passada e, segundo a CCE, os deputados do partido no poder, Rússia Unida, ficaram em primeiro lugar nas quatro regiões ucranianas que Moscovo anexou ilegalmente em 2022 - Donetsk, Kherson, Lugansk e Zaporijia - e na Península da Crimeia, que o Kremlin anexou em 2014.

A votação nas zonas ocupadas da Ucrânia foi denunciada por Kiev e pelo Ocidente como uma farsa e uma violação do direito internacional.

UE condena eleições

Sexta-feira, as autoridades ucranianas pediram à comunidade internacional para não reconhecer os resultados da votação, consideradas "falsas" pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano.

"A UE condena veementemente a realização destas 'eleições' ilegitimas na República Autónoma da Crimeia, na cidade de Sevastopol e em partes das regiões ucranianas do Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson", disse em comunicado o alto-representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell.

Os 27 condenaram e rejeitaram "mais uma tentativa fútil da Rússia de legitimar ou normalizar o controlo militar ilegal e a tentativa de anexação de partes do território ucraniano".As eleições ilegais, acrescentou Josep Borrell, são também "mais uma manifesta violação da lei internacional, incluindo da Carta das Nações Unidas, da independência, soberania e integridade territorial da Ucrânia". Por isso, a UE "não vai reconhecer a realização das chamadas 'eleições', muito menos os resultados".

E Borrell deixou uma ameaça: “Haverá consequências destas ações ilegais para a liderança política da Rússia e para os envolvidos na organização [das eleições]”.

O chefe da diplomacia europeia acrescentou que é impossível haver eleições em territórios ocupados onde estão a ser atribuídos passaportes "ilegais e forçados" a cidadãos ucranianos, "incluindo crianças", onde há "transferências forçadas e deportações, violações e abusos dos direitos humanos sistemáticas e transversais, assim como intimidação e um aumento na repressão" de cidadãos da Ucrânia pelas autoridades "ilegitimamente nomeadas" por Moscovo.

Votações nas regiões ucranianas coincidem com eleições para legislaturas locais e governadores

As votações nas regiões ucranianas ilegalmente anexadas coincidiram com as eleições nacionais para as legislaturas locais e para os governadores em 16 regiões russas.

Houve também múltiplas votações para os conselhos municipais em todo o país e eleições para alguns lugares vagos na Duma, a câmara baixa do parlamento russo.Em Moscovo, o partido Rússia Unida obteve o maior número de votos, mais de 76%, reconduzindo Sergei Sobyanin no cargo de Presidente da Câmara.

A diretora da CCE russa, Ella Pamfilova, disse que a taxa de participação foi de 43,5%, a mais alta desde 2017, percentagem que inclui a Rússia e as regiões ucranianas ocupadas.Numa região ucraniana ilegalmente anexada, os meios de comunicação social estatais russos informaram que a taxa de participação foi ainda mais elevada.

Marina Zakharova, presidente da comissão eleitoral de Kherson, instalada pela Rússia, disse domingo que 65,36% dos residentes da região votaram nas eleições.

Funcionários russos detêm aqueles que se recusam a votar

A região de Kherson não está totalmente sob controlo russo e os residentes locais e os ativistas ucranianos denunciaram que os funcionários russos fazem visitas ao domicílio acompanhados por soldados armados em ambas as províncias, detendo aqueles que se recusam a votar e pressionando-os a escrever "declarações explicativas" que podem ser usadas como base para um processo criminal.

As forças armadas ucranianas sugeriram num comunicado de domingo que Moscovo poderia utilizar os votos para identificar homens que poderiam ser recrutados para o exército russo.

No domingo, funcionários eleitorais russos relataram tentativas de sabotagem da votação nas regiões ocupadas, onde as forças leais a Kiev tinham anteriormente abatido a tiro funcionários pró-Moscovo, explodido pontes e ajudado os militares ucranianos ao identificarem 'alvos chave'.