Guerra Rússia-Ucrânia

Rússia alarga eleições locais a regiões anexadas à Ucrânia

Organizações independentes denunciaram irregularidades e fraudes na votação para as eleições regionais na Rússia, com casos de compra ou falsificação de votos, incluindo nas regiões ucranianas anexadas.

Rússia alarga eleições locais a regiões anexadas à Ucrânia
AP

A Rússia conclui este domingo eleições regionais e municipais, numa votação que alargou às regiões anexadas à Ucrânia, apesar da condenação de Kiev e da generalidade da comunidade internacional.

Em simultâneo, decorrem eleições parciais dos deputados da Duma (câmara baixa do parlamento) em quatro entidades constituintes da Federação Russa.

A votação, iniciada na sexta-feira em algumas regiões, engloba a península ucraniana da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014.

Moscovo alargou a votação às regiões ucranianas de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia, anexadas em setembro, apesar da guerra em curso e de as suas forças não as controlarem na totalidade.

Kiev denunciou as eleições nas regiões ocupadas como ilegais por violarem a soberania e a integridade territorial da Ucrânia, e avisou que "não terão quaisquer consequências jurídicas".

Para o Conselho da Europa, o mais importante organismo de defesa dos direitos humanos do continente, trata-se de "uma violação flagrante do direito internacional, que a Rússia continua a ignorar".

A Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) também condenou as eleições nos territórios ocupados e afirmou que "não terão qualquer validade ao abrigo do direito internacional".

Os Estados Unidos descreveram as eleições como um "exercício de propaganda" e reiteraram que nunca reconhecerão as pretensões de Moscovo "a qualquer território soberano da Ucrânia".

Em resposta, a Rússia acusou os Estados Unidos de interferência nos assuntos internos da Federação Russa.

As Nações Unidas manifestaram preocupação face à realização deste ato eleitoral, sublinhando que o sufrágio "não tem fundamento jurídico".

Observadores denunciam irregularidades nas eleições regionais

Organizações independentes denunciaram irregularidades e fraudes na votação de três dias para as eleições regionais na Rússia, que terminam hoje, com casos de compra ou falsificação de votos, incluindo nas regiões ucranianas anexadas há um ano.

O movimento Golos disse na plataforma de mensagens Telegram que as autoridades estavam a exercer pressão sobre os eleitores, sem dar mais detalhes. O Golos, considerado um "agente estrangeiro" por parte do Kremlin, não obteve autorização para observar a votação.

O jornal digital independente Meduza acusou membros das assembleias de voto em Moscovo de alterarem os boletins de voto e referiu casos de compra de votos em cidades como Bratsk, na Sibéria.

O Meduza, registado na Letónia e bloqueado e ilegalizado na Rússia, avançou ainda que eleitores masculinos têm sido alvo de intimidação, com pessoas a ameaçá-los com a realização de chamadas para gabinetes de recrutamento militar.

A imprensa russa destacou que a participação ultrapassa os 50% em Zaporijia. Cerca de 2,5 milhões de pessoas votaram em Moscovo e a participação foi a mais elevada no leste do país, especificamente em Kuzbass, onde atingiu quase 70 por cento.

O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, votou no sábado por via eletrónica e apelou para que os russos participem nas eleições, num vídeo transmitido pelo Kremlin.

Na sexta-feira, o secretário-geral adjunto da ONU para a Europa, Ásia Central e Américas manifestou numa reunião do Conselho de Segurança "preocupação" e sublinhou que o sufrágio em áreas ocupadas da Ucrânia "não tem fundamento jurídico".

"Lamentavelmente, (...) estas últimas tentativas ilegais de organizar novos chamados processos eleitorais nas áreas ocupadas da Ucrânia minam ainda mais as perspetivas de paz", frisou Miroslav Jenca.

"Temos informações de que o Kremlin predeterminou os resultados das eleições falsas em todo o território soberano ucraniano que a Rússia controla temporariamente", disse na reunião a embaixadora do Reino Unidos junto à ONU, Barbara Woodward.

O embaixador norte-americano Robert Wood denunciou que soldados armados da Rússia estão "a proporcionar a chamada 'segurança' aos eleitores, numa combinação intimidante de balas e votos".

Eleições realizam-se em contexto de guerra

As eleições realizam-se em plena guerra da Rússia contra a Ucrânia, que Moscovo invadiu em 24 de fevereiro de 2022.

Ao proclamar a anexação das regiões ucranianas, no final de setembro, o Presidente Vladimir Putin afirmou que os habitantes locais "serão cidadãos russos para sempre".

Entre cerca de 85 mil candidatos, serão eleitos 26 governadores, cinco dos quais de forma indireta, 20 parlamentos regionais e diversos órgãos municipais e locais.

Em Moscovo, concorrem cinco candidatos à câmara municipal, incluindo o atual titular do cargo, Serguei Sobyanin, do partido conservador Rússia Unida, que apoia o regime e detém 336 dos 450 lugares no parlamento federal.

O partido de Putin também controla 58 governadores em 85 e quase 70 por cento dos 3.980 deputados aos parlamentos regionais nas eleições anteriores.

Além do atual presidente, concorrem à câmara de Moscovo Boris Chernyshov (Partido Liberal Democrático da Rússia), Vladislav Davankov (Partido do Novo Povo), Leonid Zyuganov (Partido Comunista) e Dmitry Gusev (Partido da Rússia Justa).