O dia 28 de maio de 2024 ficará marcado como o dia em que Portugal recebeu, pela primeira vez, um Chefe de Estado de um país em guerra. Pela primeira vez em território nacional, o Presidente da Ucrânia mostrou a importância que as suas últimas 32 viagens têm para a resiliência e sobrevivência do seu país.
O comentador da SIC, Germano Almeida, destacou o papel que Volodymyr Zelensky tem desempenhado nestes últimos dois anos de guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
"A 24 de fevereiro [Zelensky], corporizou um destino singular - o de ser líder de um país invadido por uma grande potencial mundial. Deu um grande exemplo, quando podia ter fugidio, podia ter baixado os braços, capitulado. Mas resistiu e sinalizou ao seu povo e aliados que valia a pena acreditar na resistência ucraniana. Uma grande lição para as democracias e para o sistema internacional".
Acordos com dimensões diferentes e ajustados à dimensão de cada país
Antes de visitar Portugal, o Presidente da Ucrânia passou pela vizinha Espanha e pela Bélgica. Tal como aconteceu com Portugal, Zelensky assinou com estes dois países acordos bilaterais que garantem cooperação e segurança ao território ucraniano.
Na sua visita à Bélgica, o acordo estipulou um pacote de ajuda de pelo menos 977 milhões de euros e o envio de 30 caças F-16. Já Espanha ficou responsável por enviar para Kiev mais de mil milhões de euros, incluindo o fornecimento de equipamentos militares como os muito desejados mísseis Patriot.
O acordo bilateral assinado com Portugal, esta terça-feira, entre Zelensky e Montenegro garantiu à Ucrânia um apoio militar de 126 milhões de euros. Para Germano Almeida trata-se de um "acordo relevante" que coloca Portugal ao lado de outras grandes potências como Reino Unido, França, Alemanha e Espanha.
Como seria de esperar os acordos feitos entre a Ucrânia e os restantes países têm dimensões diferentes que se adaptam às dimensões financeiras e ao equipamento que cada Estado tem disponível. Portugal foi o 12º país assinar um acordo bilateral com a Ucrânia.
Em plena invasão russa na Ucrânia, Putin questiona legitimidade de Zelensky
Num cenário sem guerra, o mandato presidencial de Zelensky teria terminado no passado mês de maio. No entanto, a Ucrânia vive uma situação em que não é possível reunir condições para que a população ucraniana vá a votos para eleger (ou não) um novo Presidente para o país. Face a este cenário, o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, tem colocado em causa a legitimidade de Zelensky.
Cimeira de Paz será fundamental para perceber quem está (ou não) do lado da Ucrânia
No próximo mês de junho, a Suíça será palco da Cimeira da Paz promovida pela Ucrânia e que contará com a presença de Portugal numa delegação chefiada por Marcelo Rebelo de Sousa. Neste encontro a Ucrânia quer, entre outras medidas, exigir à Rússia a retirada das tropas do território ucraniano e a formação de uma arquitetura de segurança que impeça o país de Putin de voltar a invadir a Ucrânia ou outras regiões.
Para o comentador da SIC, esta Cimeira terá as suas "limitações" e não representará o final da guerra entre a Ucrânia e a Rússia mas permitirá a Zelensky perceber quais são os países que estão do lado do direito internacional e quem "acha que a agressão russa não é assim tão grave".
Entrada da Ucrânia na União Europeia “é o nosso futuro” e em breve poderemos ter “uma nova Europa”
A invasão russa em território ucraniano tem sido marcada também por uma possível entrada da Ucrânia na União Europeia. Uma adesão que tem riscos que são superados pelas mais valias que vão representar para a UE. Em breve poderemos vir a ter uma "nova Europa" que exigirá "uma reforma institucional" e que exigirá uma noção geoestratégica ainda mais definida.
"A Europa só existirá se permitir a entrada de uma Ucrânia livre da agressão russa e capaz de fazer as suas próprias escolhas, livres e democráticas", defende Germano Almeida que acredita que Portugal está cada vez mais a perceber a importância desta integração.