João está na Brigada Azov e garante que só regressa a casa quando tiver a missão cumprida.
“Há certas e determinadas ocasiões em que nós temos que pensar que: ou sou eu, ou é aquela pessoa. Todo o ser humano que tiver a sua vida em perigo, se tiver a oportunidade, vai matar a pessoa que está à frente. Eu sou só um ser humano que aqui está”, disse à SIC.
João tem 35 anos e está na linha da frente desde os primeiros meses da invasão russa em larga escala. Deixou Portugal para ajudar os ucranianos.
“Na minha perspetiva, estas pessoas estavam a lutar por mim, pela minha família, pelos meus amigos e pelos meus conhecidos. Não foi uma decisão complicada vir. Foi sim uma decisão complicada escolher o timing para vir”, conta.
Escolhido o timing, oito anos de experiência no exército português foram postos à prova. Agora está na Brigada Azov, antes era combatente da Legião Internacional. Defendeu a cidade de Bakhmut e enfrentou o Grupo Wagner.
Viveu um episódio que não consegue esquecer. Pouco antes da cidade cair para as mãos dos russos, os homens de Yevgeniy Prigozhin quebraram um acordo de cessar-fogo. João e a equipa foram apanhados desprevenidos.
“Isto demonstra um bocadinho aquilo que os russos são e aquilo que estão dispostos a fazer para ganhar alguma vantagem. Lembro-me que tínhamos três homens na posição, porque todos os ucranianos tinham retirado (…) e passado 30 minutos, gritos ao rádio e tiros por todo o lado, porque os russos estavam a subir por uma colina, e estavam a tentar ganhar terreno”, recorda.
“Tivemos que atravessar mais de 500 metros a correr para chegar à posição e para chegar aos três homens porque não os íamos deixar lá. Toda a equipa foi e atravessou esses 500 metros sob fogo em todo o lado, em todas as direções, a bão saber se eventualmente iria ser atingido ou não. Ou se eventualmente iria haver ou não algum fogo amigo. Foi um pouco complicado.”
Em constante prontidão para missões de combate, João é também instrutor para novos membros da Azov. Permanece focado no trabalho, mas quando a missão estiver cumprida, planeia regressar a casa, a Portugal.