A Ucrânia declarou-se disposta a participar em discussões mais diretas com a Rússia na segunda-feira, em Istambul, mas defendeu que Moscovo deve apresentar antecipadamente as suas condições para a paz. Na opinião do jornalista da TSF e comentador da SIC Ricardo Alexandre, o mais provável é que nada mude.
“Acho que o problema é precisamente que não vai haver alterações, isto é, a Rússia vai continuar a exigir manter aquilo que tem ocupado no território ucraniano.”
Há uma “diferença de abordagem negocial”, aponta: “A Ucrânia a querer saber antecipadamente quais são as condições russas e a lista de requisitos para passarem ao próximo ciclo de negociações. Enquanto a Federação Russa entende que o momento certo para entregar esse memorando e os requisitos para se chegar a uma cessação das hostilidades é precisamente em Istambul, na segunda-feira. Digamos que é uma perspetiva mais tradicional, em que o momento da negociação é o momento em que a outra parte fica a conhecer as condições que nós queremos apresentar. A perspetiva ucraniana é um bocadinho diferente, mais flexível: as condições são dadas a conhecer ou outro lado antecipadamente.”
A propósito da nova posição da Alemanha - o chanceler alemão, Friedrich Merz, disse esta segunda-feira que a Alemanha passa a estar entre os países que já não impõem à Ucrânia a condição de não utilizar as suas armas contra alvos militares da Rússia - Ricardo Alexandre considera tratar-se de um apoio “significativo”.
“São 5000 milhões de euros de ajuda militar”, destaca Ricardo Alexandre, embora Merz tenha evitado esclarecer se o seu Governo entregará mísseis de longo alcance Taurus à Ucrânia, como tinha prometido antes de se tornar chanceler.
“Se a Ucrânia tiver os mísseis Taurus é importante. Aparentemente têm um alcance de cerca de 500 km, que é superior aos ATACMS dos Estados Unidos e aos Storm Shadow fornecidos pelo Reino Unido e, portanto, vai dotar as forças bandas ucranianas de uma capacidade militar muito superior.”
A democracia nos EUA "ainda existe"
Sobre Elon Musk, que anunciou a saída do Governo de Donald Trump após expressar deceção com o megaprojeto fiscal e orçamental do republicano, que diz prejudicar o trabalho que desempenha como assessor na área da eficiência, Ricardo Alexandre defende que “se pode dizer que saia com glória”.
"As empresas de Elon Musk perderam muito dinheiro desde que ele entrou para o Governo para esse cargo oficioso do novo departamento criado pela Administração Trump”, lembra o jornalista.
Trump “serviu-se” de Elon Musk para "varrer” a administração federal “como quis”. “Despediram milhares de pessoas, fecharam departamentos governamentais (...) criaram entraves à própria eficácia da administração federal em várias áreas.”
Sobre a decisão da justiça de suspender as tarifas, “prova que a democracia nos Estados Unidos ainda existe, a separação de poderes ainda existe”.
“É uma derrota significativa para a Administração Trump, mas o Presidente já avisou que vai usar todos os poderes para a tentar reverter. E, portanto, eu prevejo uma guerra política e judicial muito séria nos Estados Unidos por causa deste tema”, aponta.