Incêndios em Portugal

Entrevista SIC Notícias

"Ainda não é necessário decretar situação de alerta" em Odemira, garante secretária de Estado

A secretária de Estado da Proteção Civil, Patrícia Gaspar, comenta e analisa na SIC Notícias o incêndio que continua ativo em Odemira, bem como a preparação feita pelas entidades competentes para o verão de 2023.

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Patrícia Gaspar, secretária de Estado da Proteção Civil, aborda na SIC Notícias o incêndio que lavra em Odemira, a gestão que tem vindo a ser feita dos meios aéreos e as mais recentes declarações do presidente da Agência para a Gestão Integrada dos Fogos Rurais (AGIF).

O incêndio de Odemira, o que concentra mais esforços, já consumiu 10 mil hectares e levou à evacuação de 20 povoações. As chamas já chegaram, inclusive, ao sopé da Serra de Monchique.

Questionada sobre se poderá ocorrer agora o mesmo que em 2018, Patrícia Gaspar diz que deve evitar-se essa comparação e garante que o trabalho que está a ser levado a cabo tem como objetivo evitar que o incêndio entre na Serra de Monchique.

Afirma que esta noite é decisiva, pois existe mais humidade, menos vento e menos temperatura.

"Estamos perante um cenário de enorme complexidade, num terreno muitíssimo difícil, que tem tido nestes últimos quatro dias condições meteorológicas que têm dificultado tudo aquilo que são as operações de combate", lamenta.

Patrícia Gaspar elogia prestação dos operacionais

A secretária de Estado refere, no entanto, que em Odemira as forças de combate às chamas estão a ser exímias no seu trabalho "quer ao nível da capacidade de comando e controlo, quer ao nível da resposta operacional no plano tático, quer ao nível do conhecimento".

A secretária de Estado garante que este incêndio não foi desvalorizado, mas sim levado “muito a sério”, ao contrário do que apontam as mais recentes críticas da população.

Sobre a gestão de meios aéreos, afirma que essa é uma das tarefas de maior complexidade a cargo da Proteção Civil e explica:

"Um fator é muito importante, que tem a ver com o horário de baliza de funcionamento dos centros de meios aéreos que é do nascer ao pôr do sol (…) Depois temos as condições do próprio terreno e do próprio incêndio e muitas vezes temos os meios prontos para atuar e em função das condições que temos no terreno (…) não é possível empregar os meios aéreos (…) Depois temos o limite de horas que os pilotos podem voar por dia e, portanto, esta é uma gestão que é feita de forma muito criteriosa por parte da Proteção Civil".

Confessa que Proteção Civil está a avaliar o acionamento da situação de alerta "numa base diária" e que, no passado domingo, levantou-se essa possibilidade devido ao agravamento das condições meteorológicas.

O acionamento da situação de alerta permite garantir outro tipo de mobilização, mas a Proteção Civil ainda não sentiu a necessidade de acionar mais meios. Todavia, isso pode ser alterado "a qualquer momento".

"Ainda não é necessário decretar a situação de alerta", diz a secretária de Estado que justifica que não "haveriam ganhos objetivos" com essa decisão.

Ainda não foram apuradas as causas dos mais recentes incêndios

Quanto à investigação dos mais recentes incêndios, Patrícia Gaspar, afirma que ainda não foram apuradas as causas, mas aponta que nos próximos dias esse cenário pode ser alterado.

Enaltece ainda o facto de terem vindo a ser reforçadas várias questões no domínio da prevenção, tais como a vigilância, a dimensão de deteção dos incêndios e da fiscalização.

Explica que a Proteção Civil começou a "trabalhar muito cedo" para este verão, dadas as previsões que apontavam para um cenário de elevada exigência.

"Temos o maior dispositivo dos últimos tempos, o ano em que temos mais meios, quer meios aéreos, quer meios humanos, quer meios terrestres e, portanto, da parte da resposta operacional conseguimos ainda incorporar já este ano as lições que retirámos do ano de 2022", destaca.

Já arderam 24.800 hectares em 2023

A secretária de Estado não tem qualquer previsão para a área que irá arder durante este verão, devido à imprevisibilidade das condições meteorológicas. No entanto, revela que em todo o ano de 2023 já arderam 24.800 hectares, sem contar com os mais recentes incêndios.

Tiago Oliveira, presidente da Agência para a Gestão Integrada dos Fogos Rurais (AGIF), declarou que os bombeiros são remunerados consoante a área ardida. Patrícia Gaspar clarifica esta acusação dizendo apenas que tem sido feito mais investimento na prevenção do que no combate aos incêndios. Não se quis alongar quanto a esta polémica e disse apenas que Tiago Oliveira já comentou o sucedido.

Os bombeiros exigem uma reunião excecional com os comandantes face à situação que se abate sobre o país. Relativamente a esta questão, a secretária de Estado garante que existe "um diálogo permanente" entre as entidades envolvidas no combate às chamas.

"Nós temos perfeita noção daquilo que são as prioridades que neste momento já nos disponibilizámos e já manifestámos todo o interesse em começar o mais rapidamente possível a trabalhar com a Liga dos Bombeiros Portugueses. Estamos a falar em olhar para aquilo que são as regras do financiamento dos corpos de bombeiros, para a questão da valorização do estatuto do bombeiro e também para o reequipamento dos corpos de bombeiros".