Incêndios em Portugal

"Perdi o meu ganha-pão": Jorge, Carla e Sónia são os rostos do que o fogo destruiu em Castro Daire

Em Castro Daire, os prejuízos começaram a ser contabilizados. O casal Jorge e Carla perderam o sustento e os animais, que eram "amigos". Sónia perdeu a estufa onde produz frutos vermelhos.

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Em Castro Daire, o balanço dos prejuízos do incêndio ainda agora começou, mas é certo que são elevados. Um casal de agricultores perdeu o sustento de uma vida de trabalho. Perderam 120 animais e os que sobreviveram estão feridos. Na freguesia de Moita, arderam vários hectares de plantações de frutos vermelhos.

Jorge Santos e Carla Pinto são produtores agrícolas em Mões, Castro Daire. Perderam 120 cabras de raça Transmontana. Arderam 10 km de rede, alfaias e reboques. Conseguiram salvar a casa, mas o sustento de uma vida ficou queimado.

“Tivemos que fugir daqui. Não conseguimos salvar nada. Está tudo em cinzas. Era o meu ganha-pão, perdi tudo. Perdi o meu trabalho, perdi os meus animais queridos, que eram meus amigos. Fica a dor”.

Sobreviveram cerca de 15 animais.

Em Bragança, já se angariam fundos para que o casal consiga alimentar as cabras que fugiram das chamas. Os prejuízos ascendem a 100 mil euros.

Carla e Jorge são ex-emigrantes e, apesar de terem um pé de meia, não sabem como vão fazer face a prejuízos desta dimensão.

“Não fomos contactados por entidades locais. Nunca vieram ao terreno ver se estava tudo bem”, conta Jorge.

Ao lado, na freguesia de Moita, Sónia Miguel perdeu a estufa de que é proprietária há 12 anos. Produz frutos vermelhos.

O incêndio que deflagrou na madrugada de segunda-feira chegou aos terrenos de Sónia, pouco depois das 05:00.

“Foram momentos de angústia, de terror, parecia que estávamos num cenário de guerra. Era fogo por todo o lado”, relata Sónia.

O fogo queimou um hectare de mirtilos, um hectare de amoras e um hectare e meio de framboesas.

O Estado vai avançar com apoios às pessoas e às empresas afetadas, mas Sónia não quer esperar.

“Para já, vamos fazer sem apoios. Se estivermos à espera dos apoios do Governo vai passar o inverno todo sem eles chegarem. Nós temos de trabalhar. As nossas funcionárias dependem de nós”.

Jorge, Carla e Sónia são os rostos do que o incêndio destruiu. A esperança de reconstruir o que fogo levou dá também lugar à revolta do que não foi feito antes do verão, como por exemplo, a limpeza das matas e dos terrenos.