Já passou mais de uma semana. O serviço no quartel regressou à rotina, mas os pensamentos dos bombeiros ainda estão nos incêndios. Em Albergaria-a-Velha, uma das regiões mais fustigadas pelas chamas, vários operacionais falaram com a SIC.
“Vamos revendo as imagens, as pessoas aos gritos… Nós também temos coração. mexe connosco e as lágrimas correm no rosto”, comenta Filipe Silva.
Pedro Oliveira, segundo comandante dos bombeiros de Albergaria-a-Velha, recorda-se de ver “um senhor que tinha a casa arder” e de “não poder fazer nada”. “Custa querermos ajudar e não conseguirmos”, confessa.
Naquela segunda-feira, dia 16 de setembro, a manhã solarenga escureceu num ápice. Algo de muito mau vinha a caminho.
“Eram chamados de todos os lados”, lembra Ana Alves. “Era muito fumo”, comenta Filipa Silva.
“Chamaram-me mais nomes do que na minha vida toda”
Remoem-se momentos, os conterrâneos em perigo, as casas ardidas, os negócios e planos arruinados. Numa situação extrema, onde não era possível chegar a todo o lado, muitos populares contestaram o trabalho dos bombeiros.
”Naquela segunda-feira chamaram-me mais nomes do que na minha vida toda. mas não havia maneira de ajudarmos mais", conta Pedro Oliveira. “Estamos aqui para uma missão e nos tratam assim. É um pouco frustrante lidar com isso emocionalmente”, confessa Fábio Marques.
“Memórias de 2017 vieram ao de cima”
Na segunda-feira, por volta das 7h20, três incêndios dirigiram-se para Albergaria-a-Velha a uma velocidade raramente observada.
"As memórias de 2017 vieram ao de cima. Pensei ver uma situação muito idêntica ou ainda pior a de Pedrógão Grande", conta Pedro Oliveira.
Muitos familiares dos próprios bombeiros viveram essas aflições.
“Deixámos a nossa família e vamos socorrer os outros, sem saber se os nossos estão em segurança”, afirma Nuno Cândido.
Houve mortes e destruição. Apesar disso, a dedicação destes homens e mulheres evitou um desfecho ainda mais catastrófico.