Incêndios em Portugal

Opinião

"Os incêndios em Portugal interessam e dão de comer a muita gente"

José Gomes Ferreira acredita que há uma “indústria dos incêndios”, que colapsaria se não existissem incêndios todos os anos. “As evidências estão aos olhos de toda a gente”, diz o jornalista, que dá exemplos do que pode ser feito para contrariar o problema.

José Gomes Ferreira
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Como em todos os verões, os incêndios estão a atingir várias regiões do país, sobretudo no Norte. Em 11 dias, a Polícia Judiciária (PJ) deteve 10 pessoas suspeitas de fogo posto, a principal causa das ignições. Mas, afinal, a quem é que interessa os incêndios em Portugal?

“Interessam a muita gente. Como eu costumo dizer, os incêndios rurais em Portugal dão de comer a muita gente”, responde José Gomes Ferreira.

José Gomes Ferreira acredita que há uma “indústria dos incêndios”, que colapsaria se não existissem as ocorrências todos os anos, e “as evidências estão aos olhos de toda a gente”. “As autoridades sabem disto", garante.

“Não vou acusar nenhuma pessoa, empresa ou setor em concreto. Mas se não houvesse incêndios num ano, o que é que acontecia no mercado de aluguer de aviões de combate, de helicópteros, de venda de veículos de combate, de adaptação e reparação de veículos, das empresas de mangueiras, fatos e outros materiais? Se não existirem incêndios, não há mercado para estes negócios”, diz o jornalista.

José Gomes Ferreira revela ainda que falou com um “alto responsável da Proteção Civil, que já não está em funções”, que admitiu a relação entre os incêndios e o comércio de madeira para aglomerados.

“Muita madeira que foi queimada dá para cortar a preço zero e os proprietários até pagam para libertar o terreno. O valor económico da matéria prima é praticamente zero e o valor final do produto é igual.”

O que pode ser feito?

José Gomes Ferreira propõe um modelo de incentivos “contrário ao que existe hoje”, que “não esteja do lado da ocorrência do fogo, mas do lado dos proprietários que querem manter a floresta verde”.

“A sociedade devia pagar, através de estruturas do Estado, subsídios a quem mantém a floresta verde. Não é impossível. Pode ser com créditos de carbono que se estendam aos pequenos proprietários”, frisa o jornalista, que dá outros exemplos.

“O Estado devia assumir, através da Força Área, a maior parte dos meios de combate aos incêndios. Os privados não deviam dominar completamente esse mercado (…) Militares do exército deviam fazer campanhas de três meses no meio da floresta, para aumentar a fiscalização”, diz José Gomes Ferreira, que também defende o aumento das penas para os incendiários.