“A história da Humanidade não é escrita pelas tecnologias. A história da humanidade é escrita pelas tecnologias e por aquilo que a Humanidade decide fazer com elas. E essa é a atitude que eu acho que devemos ter também no que respeita à educação”, defende Ricardo Paes Mamede, diretor da Iscte-Sintra.
Nesta faculdade dedicada ao ensino e investigação em Tecnologias Digitais Aplicadas há uma disciplina obrigatória: avaliar os riscos e benefícios do Chat GPT.
“Desde a invenção do fogo que tanto pode servir para proteger os seres humanos nas cavernas como servir para as pessoas se queimarem. Portanto, qualquer tecnologia pressupõe que a sociedade como um todo - também cada indivíduo - tem a capacidade de tirar o melhor partido das tecnologias e prevenir os seus riscos”, argumenta.
Por isso, enquanto muitas universidades decidiram proibir o Chat GPT, o Iscte-Sintra decidiu passar a integrar a ferramenta nas aprendizagens. Quando os alunos têm de programar, por exemplo, podem usar o Chat GPT para criar o código, mas depois têm de saber explicá-lo.
Além disso, também é preciso saber fazer a pergunta certa, o que implica conhecimento, lembra Dalila Durães, professora auxiliar na Universidade do Minho e investigadora no Centro ALGORITMI.
“A informação que damos ao sistema para ele nos dar depois uma resposta é importante. Não basta colocar só a questão, é importante também fazer uma pequena introdução ao sistema para ele perceber o contexto em que pretende uma determinada resposta para depois dar também essa mesma resposta.”
Por fim, é preciso pensamento crítico para avaliar a resposta, além de cruzar as informações com outra fonte. Nem sempre a resposta a uma pergunta colocada ao Chat GPT ou outro sistema de IA é factual e verdadeira - surgem por vezes conteúdos falsos e invenções, as chamadas “alucinações artificiais”.
“Os professores, e os próprios encarregados de educação, terão aqui um papel fundamental, não na proibição, mas no acompanhamento do estudo, digamos assim, do aluno”, defende a investigadora.
“O Chat GPT, a IA, obriga os professores, como já obrigou no passado, a irem ajustando o seu papel”, acrescenta Ricardo Paes Mamede. “Até entendo que ajude os professores a concentrarem-se naquilo que é mais importante que um professor faça, que é mesmo ajudar a criar, a desenvolver um quadro mental, mais do que a fornecer informação.”
Veja na íntegra os dois episódios da Grande Reportagem: “Penso, IA existe” e “Existe, IA pensa!”