Deizy Nhaquile tinha 9 anos quando entrou pela primeira vez num barco. Esteve perto de desistir de praticar vela, mas o pai não deu tréguas. Agora integra a equipa olímpica de Moçambique pela segunda vez, mas é como se fosse uma estreia porque nas Olimpíadas de Tóquio teve covid-19, o que comprometeu o seu desempenho.
“Eu e a minha mãe estávamos com medo da vela e de ir para a água com mau tempo, então eu disse ao meu pai que queria parar. O meu pai disse que não, que eu tinha que velejar porque isso podia mudar a minha vida, ir para a escola e sim, pode mudar a minha vida porque não somos ricos. Ele disse: se não fores velejar, sai da minha casa, e eu disse: 'Ohhhh', mas eu continuo. Fui velejar e em 2012 vou ao meu primeiro campeonato na Tanzânia e ganho.", conta a atleta moçambicana, em entrevista à agência Reuters.
O talento de Deizy foi rapidamente reconhecido pelo seu clube de Maputo. Aos 24 anos, integra a delegação moçambicana composta por sete atletas nos Jogos Olímpicos de Paris.
A atleta que compete na classe Laser Radial, agora chamada de ILCA 6, lamenta estar longe dos compatriotas, em Paris, visto que as provas de vela se realizam no Sul de França, em Marselha, mas acima de tudo, queixa-se da falta de apoio.
“Eu classifiquei-me para Marselha, mas eu e o meu técnico Rob não temos boas condições de preparação porque estou com alguns problemas na África do Sul e o meu país não se preocupa em vencer os Jogos Olímpicos, apenas em se classificar, E depois, para conseguir uma medalha nos Jogos Olímpicos, temos que gastar muito dinheiro, temos que ir a muitos campeonatos.”
A inspiração de Mutola e o desejo de motivar "todas as mulheres negras"
O sonho de Deizy é alcançar o feito de Maria de Lurdes Motola, única moçambicana a chegar às medalhas olímpicas, de ouro e bronze.
Além de outros títulos relevantes no atletismo, Maria de Lurdes Mutola foi campeã nos 800 metros nos Jogos Olímpicos de Sydney 2000 e em Atlanta 1996 conquistou o bronze na mesma prova.
Tal como Maria de Lurdes Mutola, agora com 51 anos, desbravou caminho no atletismo para as mulheres africanas, Deizy Nhaquile deseja que outros sigam o seu percurso e diz que está a representar não só Moçambique, "mas África e todas as mulheres negras".
Visite o Especial Jogos Olímpicos
Paris 2024:
- Guia sobre os Jogos Olímpicos de Paris
- Por que motivo a mascote dos Jogos Olímpicos 2024 é um barrete?
- Vila Olímpica: a "casa" de 15.000 atletas durante os Jogos de Paris
- Dez filmes e séries para entrar no espírito dos Jogos Olímpicos
- De Nova Iorque a Paris: o que é o breaking, a nova modalidade dos Jogos Olímpicos
Portugal nos Jogos Olímpicos:
- As 28 medalhas conquistadas por Portugal em Jogos Olímpicos
- Jogos Olímpicos: a (histórica) lista de atletas portugueses qualificados para Paris 2024
História dos Jogos Olímpicos:
- Jogos Olímpicos: a origem de uma das maiores competições de desporto do mundo
- Nudez, castigos corporais e violência: (algumas) curiosidades sobre os Jogos Olímpicos da Antiguidade
- De Olímpia para o estádio olímpico: a chama que não se apaga
Quizzes: