Jogos Olímpicos

Análise

Medalhas olímpicas: "Proporcionalmente, estamos na mesma linha" dos EUA

Daniel Sá, especialista em marketing desportivo, elogia, na antena da SIC Notícias, a participação histórica de Portugal nos Jogos Olímpicos de Paris e defende que a naturalização de atletas como fórmula do sucesso desportivo "não deixa de distorcer, de alguma forma, o espírito genuíno" da competição.

Rui Oliveira e Iúri Leitão após conquista do ouro, em Paris.
Loading...

Daniel Sá, especialista em marketing desportivo, faz uma retrospetiva da participação portuguesa nos Jogos Olímpicos de Paris, que poderá ser melhor no futuro se foram criadas as condições necessárias, de acordo com o próprio. Durante a sua análise na SIC Notícias, pronuncia-se ainda sobre a naturalização de atletas, que tanto tem dado que falar, e a morte de José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP).

Portugal encerrou a sua participação nos Jogos Olímpicos de Paris com quatro medalhas – uma de ouro, duas de prata e uma de bronze -, mas também com 14 diplomas, atribuídos aos oito primeiros classificados de cada prova.

Daniel Sá explica que esta distinção, embora não tenha o mesmo impacto mediático das medalhas, é "de extrema importância também".

"Alguém que consegue ser o oitavo melhor do mundo numa competição olímpica está, de facto, numa elite muito, muito restrita".

Traz ainda uma "outra perspetiva" sobre o medalheiro olímpico, tendo em conta o número de medalhas per capita.

Portugal na "mesma linha" dos EUA

Nesse sentido, segundo o especialista, Portugal tem uma medalha por cada 2,7 milhões de habitantes, "o que é exatamente o mesmo valor dos EUA, que ficaram em primeiro neste medalheiro oficial".

"Proporcionalmente, estamos na mesma linha", sublinha.

Para subir um patamar na competitividade, na opinião de Daniel Sá, é imperativo que, em Portugal, "não se fale dos Jogos Olímpicos só durante três semanas de quatro em quatro anos":

"É necessário, para que isto possa ter melhores resultados, prolongar este efeito, envolvendo quer o Estado, quer o Comité Olímpico, quer patrocinadores de maneira a maximizar esta visibilidade que acabámos de conquistar".

Para além disso, ressalva, é essencial melhorar o "planeamento a longo prazo":

"Planear a quatro anos parece longo prazo, mas não é. Ou seja, para termos bons resultados no ciclismo, como vimos agora, não é apenas um trabalho destes dois atletas nos últimos quatro anos isto é um trabalho que começou há 15 anos com a pista de Sangalhos, que, na altura, toda a gente criticou, mas agora que deu duas medalhas toda a gente acha que foi uma boa decisão".

Vinca que é essencial dar mais visibilidade ao projeto olímpico durante todo o ano e criar as condições necessárias para os atletas portugueses.

Naturalização de atletas "distorce, de alguma forma, o espírito genuíno dos JO"

A naturalização de atletas estrangeiros tem vindo a tornar-se comum em todo o mundo. Para o especialista em marketing desportivo, Portugal "não exagera nesta política", ao contrário de outros países que "compram medalhas", acusa.

A título de curiosidade menciona que os três primeiros classificados da prova de triplo salto masculino são de origem cubana, mas competem por Espanha, Portugal e Itália.

"Não deixa de distorcer, de alguma forma, este espírito genuíno de Jogos Olímpicos. Em boa verdade, podíamos estar a falar de três medalhas cubanas no triplo salto e isso não aconteceu, provavelmente, porque três países mais favorecidos conseguiram atrair e dar melhores condições aos três atletas", denota.

José Manuel Constantino morreu aos 74 anos

O encerramento dos Jogos Olímpicos coincidiu com a morte de José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal.O dirigente morreu aos 74 anos, no domingo, vítima de doença prolongada.

Daniel Sá lamenta a sua morte e diz que o presidente do COP "deixa uma imagem de alguém que não tem apenas os últimos 10 anos à frente do Comité Olímpico, tem um legado anterior muito mais vasto onde tem passagem pela Fundação do Desporto e pela Confederação do Desporto de Portugal".

"Se tivéssemos de mencionar quatro ou cinco dirigentes mais importantes do mundo do desporto na História portuguesa, José Manuel Constantino faz parte dela", defende.

O especialista em marketing desportivo aponta que o legado deixado pelo antigo presidente "coloca o nível de profissionalismo e de visão estratégica como Portugal nunca tinha tido no passado".