Testemunhos

JMJ: há uma esperança no ar

Opinião de Filipe Teixeira. Que caminho falta ainda percorrer para, como sociedade, nos distanciarmos desta caridade “protegida” para preferir, em plenitude, a caridade concreta, capaz de colocar o “outro” no centro?
JMJ: há uma esperança no ar
MIGUEL A. LOPES

Esta visita do Papa Francisco a Portugal tem sido um roteiro para se perceberem alguns dos pontos essenciais do seu pontificado. Francisco não se escusa a abordar os assuntos, mesmo aqueles que são mais sensíveis e que, por vezes, passam em claro. Destaco dois deles:

Esta manhã, o Papa preferiu o improviso ao texto escrito para mostrar a todos uma imagem do que é a caridade, a caridade concreta.

Fê-lo a partir de uma imagem que desarma quem pensa que já fez tudo ao praticar a caridade: “quando aperto a mão de um necessitado, de um doente, de um marginalizado, sacudo logo as mãos para não ser ‘infetado’? Tenho nojo da pobreza, da pobreza dos outros?”.

Esta imagem parece transportar-nos para o ponto de partida de uma corrida em que pensávamos estar perto do fim. Que caminho falta ainda percorrer para, como sociedade, nos distanciarmos desta caridade “protegida” para preferir, em plenitude, a caridade concreta, capaz de colocar o “outro” no centro?

Ontem, o Papa também pediu uma Igreja para “todos, todos, todos”. E aqui também há caminho a trilhar.

Claro que podemos começar por pensar em “todos” os “habituais afastados” da vida da Igreja, mas também é hora de se incluírem todos os que são impedidos de conhecer uma Igreja que se quer de “todos, todos, todos”.

É urgente falarmos do acolhimento. Quando se procura a Igreja para um sacramento o que se encontra? Uma porta aberta, semi-aberta, encostada ou fechada?

Há, no entanto, uma nova esperança no ar e que esta JMJ veio reforçar. Existem, por exemplo, 1753 peregrinos inscritos que são portadores de deficiência, um coro de surdos a interpretar as músicas litúrgicas nos eventos centrais e até uma participação concreta de muitos nalgumas das celebrações com a presença do Papa Francisco.

Este e muitos outros exemplos apontam que ainda há muito caminho a fazer, mas, em todos os desafios deixados pelo Papa Francisco, começa-se a comprovar o protagonismo dos jovens. Serão eles a “fazer com que haja” (e já estão a fazer) na Igreja espaço para “todos, todos, todos”.