Operação Lava Jato

Moro novamente acusado de liderar ilegalmente investigação contra corrupção no Brasil

Informação vançada pela revista Veja.

Moro novamente acusado de liderar ilegalmente investigação contra corrupção no Brasil
Adriano Machado

O ministro da Justiça do Brasil, Sérgio Moro, terá atuado ilegalmente na Lava Jato ao pedir a inclusão de provas, criticar negociações sobre colaboração e interferir nas investigações quando era juiz da operação, refere esta sexta-feira a revista Veja.

Numa extensa reportagem, a Veja disse ter verificado mais de 600 mil mensagens trocadas por integrantes da equipa da investigação da Lava Jato em parceria com o portal jornalístico The Intercept.

Desde o dia 09 de junho, o The Intercept publica - agora também em parceria com outros media -- notícias com base em informações que obteve de uma fonte anónima e que colocou em causa a imparcialidade da Justiça na operação Lava Jato, a maior investigação contra a corrupção do Brasil.

Na edição desta semana, a Veja publicou diálogos inéditos em que o chefe dos procuradores da Lava Jato, Deltan Dallagnol, terá avisado uma procuradora que o ex-juiz Sergio Moro pediu a inclusão de provas sobre uma transação bancária realizada pelo lobista Zwi Skornicki para Eduardo Musa, um ex-funcionário da Petrobras.

A conversa ocorreu no sistema de mensagens Telegram e, segundo a Veja, indica uma provável violação cometida pelo ex-juiz Moro, que pediu a inclusão de informações num processo que iria posteriormente julgar, violando a legislação processual e o Código de Conduta da Magistratura.

Em defesa de Moro, o Ministério da Justiça do Brasil alegou que a revista Veja não deu ao ministro acesso ao conteúdo das mensagens reportadas, pelo que o ministro não tem "como confirmar ou responder pelo conteúdo de suposta mensagem entre terceiros".

"De todo modo, caso a Veja tivesse ouvido o ministro, ou checado os fatos, saberia que a acusação relativa ao depósito de 80 mil dólares [71,3 mil euros na cotação de hoje] , de 7 de novembro de 2011, e que foi incluído no aditamento da denúncia em questão, não foi reconhecido como crime na sentença proferida pelo então juiz", acrescentou o comunicado.

Segundo a Veja, Moro também terá enviado mensagens a Dallagnol no ano de 2017, perguntando sobre a negociação de um acordo de delação premiada [confissão de crimes em troca de redução da pena] entre o Ministério Público Federal (MPF) e o ex-deputado Eduardo Cunha.

Além de questionar um procurador sobre factos referentes as investigações e acordos de colaboração, o que seria ilegal, Moro terá manifestando claramente ser contrário ao acordo, além de pedir para ser informado sobre o andamento das conversas com advogados.
Eduardo Cunha, ex-presidente da câmara baixa do Congresso brasileiro, foi o responsável pelo início do processo de destituição da ex-presidente Dilma Rousseff.

Acusado, ele acabou também destituído do mandato parlamentar, condenado e preso por envolvimento nos casos de corrupção investigados pela Lava Jato.

Na nota, o Ministério da Justiça negou que o juiz tenha contestado a colaboração de Cunha, alegando que a "eventual colaboração de Eduardo Cunha, por envolver supostos pagamentos a autoridades de foro privilegiado, jamais tramitou na 13ª Vara de Curitiba ou esteve sob a responsabilidade do ministro [Moro] , então juiz".

Desde que as trocas de mensagens entre o ex-juiz e membros do MPF que atuam na Lava Jato se tornaram públicas, os envolvidos tem repetido que sempre agiram conforme a lei e que não podem garantir a veracidade dos diálogos divulgados pelo site The Intercept Brasil.

Lusa