Mundial feminino

Mundial feminino: ex-jogadora elogia Seleção Nacional e fala das diferentes gerações

Alfredina Silva, uma das pioneiras das "quinas" há 42 anos, confia numa imagem "excelente" de um coletivo que se transcendeu durante um "percurso nada fácil" entre a qualificação europeia e o play-off intercontinental.

Alfredina Silva e Jéssica Silva.
Alfredina Silva e Jéssica Silva.
Reprodução/Facebook Alfredina Silva

As diferentes gerações da seleção portuguesa feminina de futebol, que se estreia no domingo em Mundiais, têm partilhado uma "grande paixão pelo jogo", nota a ex-internacional Alfredina Silva, uma das pioneiras das 'quinas' há 42 anos.

"Esta geração tem excelentes jogadoras, de muito talento e qualidade, que sabem aquilo que têm de fazer, estão a desfrutar e entregam-se de uma maneira única. Considero que, se tivessem dado à nossa geração as condições que estão a dar à atual, poderíamos ter tido também futebolistas capazes de integrar perfeitamente um Campeonato do Mundo", disse à agência Lusa a atual coordenadora técnica e treinadora das sub-13 do Boavista.

“Navegadoras” iniciam caminha frente aos Países Baixos

Portugal encara os Países Baixos, vice-campeões em título, no domingo, às 19:30 locais (08:30 em Lisboa), em Dunedin, na ronda inicial do Grupo E, que inclui ainda os Estados Unidos, recordistas de títulos e atuais bicampeões, e o estreante Vietname, numa nona edição do Mundial que está a decorrer entre Austrália e Nova Zelândia até 20 de agosto.

Alertando que as 'navegadoras' carecem de "alguma experiência", Alfredina confia numa imagem "excelente" de um coletivo que se transcendeu durante um "percurso nada fácil" entre a qualificação europeia e o play-off intercontinental e "evoluiu com as dificuldades".

"Tem sido muito bom estar a viver estes dias que antecedem o primeiro jogo. Mesmo que as coisas não corram bem em termos de resultado, isso não poderá afetar a participação nas outras jornadas. Cada partida tem a sua história e a primeira vai ser importante, mas Portugal deve estar focado jogo a jogo e preparar-se da melhor forma possível", sugeriu.

A ex-média, de 59 anos, sente que os oponentes vão continuar a ter "grande respeito por aquilo que Portugal pode fazer", apesar de o 21.º colocado do ranking da FIFA ter ficado pela primeira fase dos Europeus de 2017 e 2022 na sua estreia absoluta em fases finais.

"A equipa está preparada para todos os desafios. Obviamente, este Mundial não vai ser fácil, porque calhámos num grupo bastante difícil. Agora, o selecionador [Francisco Neto] tirou a ilação nesses Europeus de que tem um grupo forte, coeso e unido, que dará tudo em campo, está extremamente motivado e tem os portugueses do seu lado", enquadrou.

Futebol feminino tem evoluído ao longo dos anos

O país tem acompanhado a mediatização da modalidade à escala mundial, beneficiando do "caminho desbravado" no século XX, quando o profissionalismo era uma miragem e existiam "estigmas sociais que impediam as raparigas e as mulheres de jogarem à bola".

"Elas mantiveram-se teimosamente no ativo, obrigaram a que as pessoas vissem jogos e lutaram por uma maior visibilidade, procurando que o futebol feminino fosse enquadrado institucionalmente pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e os clubes abraçassem esse projeto. Penso que todas estamos no mesmo caminho e que essas pioneiras foram muito importantes para que a modalidade esteja hoje no patamar em que está", lembrou.

15.247 dias separam a estreia lusa em Mundiais do primeiro duelo de sempre da seleção feminina, perpetuada num particular com a França (0-0), em 24 de outubro de 1981, em Le Mans, com Alfredina, então com 17 anos e vinculada ao Leixões, nas 16 convocadas.

"A visibilidade que se dá hoje, a alteração de mentalidades das famílias. Há fatores que contribuíram ao longo do tempo para esse desenvolvimento, mas ainda necessitamos de mais momentos e condições. A subida do número de praticantes e um campeonato cada vez mais competitivo permitirão que esse futuro continue vivo e num processo evolutivo", terminou a detentora de 30 internacionalizações e quatro golos, equacionando como teria sido se a seleção feminina não tivesse sido descontinuada por uma década (1983-1993).