Uma equipa internacional de cientistas identificou as propriedades anticongelantes únicas da pele do urso polar, atribuindo a sua eficácia a uma camada de gordura natural. A descoberta ajuda a explicar como a espécie resiste às condições do Ártico, ao mesmo tempo que sugere aplicações potenciais em tecnologias industriais anti-gelo.
"Há uma propriedade incrível que parecem ter. Rolam na neve e deslizam pelas colinas em condições abaixo de zero, mas o gelo não se acumula sobre eles", explica Julian Carolan, um dos investigadores, do Trinity College de Dublin e do Centro de Investigação da Irlanda - AMBER, em entrevista à agência Reuters.
Cientistas do Trinity College de Dublin examinaram amostras de pelo de seis ursos polares selvagens, concentrando-se na composição química da gordura da sua pele – uma camada oleosa natural.
O estudo, publicado na revista Science Advances, descobriu que esta gordura contém colesterol, entre outros ingredientes gordos, que reduzem significativamente a adesão do gelo. Quando a gordura foi removida, o pelo comportou-se de forma semelhante ao cabelo humano, permitindo que o gelo se fixasse com mais facilidade.
"A chave está nesses óleos capilares que contêm componentes que impedem que o gelo se cole ao pelo dos ursos".
"Através de uma análise desses óleos capilares, encontrámos alguns componentes específicos que eram muito interessantes e então simulámos o modo como interagem com o gelo e descobrimos que eram muito bons a repeli-lo. Portanto, não aderem fortemente ao gelo. Esses componentes dão aos ursos polares uma vantagem para impedir que o gelo se agarre ao pelo," acrescenta Julian Carolan.
Contributo para o desenvolvimento de revestimentos sustentáveis
As descobertas contribuem para uma investigação mais ampla sobre mecanismos naturais anti-gelo e podem contribuir o desenvolvimento de revestimentos sustentáveis para superfícies expostas ao frio extremo. Os cientistas destacam o potencial de substituição de produtos químicos sintéticos por alternativas de inspiração biológica.
"Se pudéssemos substituí-los por alguns desses óleos capilares, esses componentes mais naturais e assim livrarmo-nos do problema desses produtos químicos para sempre, seria um grande passo em frente", destaca Carolan.
Além dos seus benefícios estruturais, o pelo revestido de gordura também pode desempenhar um papel nas estratégias de caça dos ursos polares, reduzindo a fricção quando se movem no gelo, e ajudando-os a poupar energia ao deslizar sobre o gelo.
Com Reuters