Os ataques de ursos estão a aumentar nas zonas rurais no Norte do Japão. A aproximação destes animais selvagens às áreas populacionais deve-se a vários fatores. Os especialistas atribuem a aproximação dos ursos pretos e pardos ao despovoamento rural, à diminuição da área cultivada e à diminuição das fontes de alimento devido às alterações climáticas, levando a um comportamento mais ousado por parte destes animais.
Na ilha de Hokkaido, no Norte do Japão, um homem examina o conteúdo de sua armadilha. Dentro da jaula de metal, rosna um urso pardo, com mais de 2 metros de altura e cerca de 250 quilos. Haruo Ikegami, de 75 anos, diz que teria preferido não ter capturado o jovem animal, porque sabe o que lhe vai acontecer a seguir.
"Este urso pardo chegou muito perto de uma comunidade. Não estava aqui, mas ali no meio da cidade e nas estradas mais próximas. Nesse tipo de situação, não temos outra escolha a não ser prendê-los", explica Ikegami, em entrevista à agência Reuters.
Os ursos presos ficam à mercê das autoridades locais, que decidem o seu destino. As repetidas aparições deste urso pardo perto de casas e explorações agrícolas em Sunagawa levaram as autoridades a ordenar o seu abate. Muitas vezes, as únicas pessoas equipadas para isso são os caçadores recreativos, que geralmente fazem o trabalho com um tiro na cabeça do animal.
Residentes temem pelo futuro
Ikegami pertence a um grupo cada vez menor de caçadores no Japão, uma população que, como no resto do país, está a envelhecer e a diminuir. No entanto, caçadores como Ikegami continuam a ser a primeira linha de defesa no Japão contra a crescente ameaça de ataques de ursos nas zonas rurais.
Em 2020, cerca de 60% dos titulares de licenças de porte de arma no Japão, como Ikegami, tinham 60 anos ou mais. E nas regiões do Japão onde os ursos aparecem, alguns residentes temem pelo futuro em que esses caçadores já não consigam fazer esse trabalho.
"Dizem que devemos treinar novos caçadores, mas não há nada específico sobre como devemos fazer isso. Quem vai realizar os treinos e os workshops?", questiona o caçador Tatsuhito Yamagishi, de 72 anos, da cidade de Naie, Hokkaido, que acusa o governo local de considerar os caçadores como um dado adquirido.
O custo de capturar e abater ursos também é um problema. Em algumas áreas, os caçadores podem receber 8.000 ienes (cerca de 50 euros) dos governos locais pelo seu trabalho, mas os valores variam.
As autoridades locais de Naie recusaram-se a comentar a disputa com Yamagishi, mas disseram que estavam a tomar medidas para resolver o problema dos ataques dos ursos, que pões em risco a vida dos habitantes, os seus bens e animais.
"Monster Wolf", o robô inventado para afugentar os ursos
Algumas empresas também recorreram à tecnologia para manter os ursos à distância.
Wolf Kamuy, uma empresa japonesa, desenvolveu o "Monster Wolf", um robô equipado com 60 sons diferentes, incluindo latidos, vozes humanas e tiros, este dispositivo inovador pode ser ouvido a mais de um quilômetro de distância.
O robô tem aparência de lobo, olhos vermelhos brilhantes e uivos de arrepiar é acionado por um sensor infravermelho e alimentado por energia solar.
"Acho que há uma necessidade real de colocá-los em áreas onde a população está a diminuir e a envelhecer, a fim de manter os animais selvagens afastados, para que possamos enfrentar os desafios futuros que a nossa sociedade enfrenta", explica à Reuters o criador do "Monster Wolf", Yuji Ohta.