Operação Marquês

A relação de Sócrates com Ricardo Salgado e a OPA da PT: resumo da nova sessão de julgamento

Nos argumentos do Ministério Público para provar a cumplicidade entre Sócrates e Ricardo Salgado estão as escutas de três telefonemas entre o ex-banqueiro e o ex-primeiro ministro, que foram reproduzidas na sessão da tarde.

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A relação de José Sócrates com Ricardo Salgado foi o tema forte da sessão de julgamento da Operação Marquês em que o ex-primeiro ministro começou a falar. Afinal os dois eram, ou não, amigos? Num tom quase sempre crispado, Sócrates insistiu que não eram e acusou o Ministério Publico de não ter quaisquer provas, alegando que a sua defesa não deixará pedra sobre pedra. 

Se, de facto, pudesse ser filmado, como Sócrates defendeu, este julgamento sentaria o país no sofá e o ‘stock’ de pipocas, que costuma acompanhar grandes folhetins, esgotar-se-ia. 

De dedo em riste, apontado à juíza, foi a presidente do coletivo que Sócrates advertiu quando esta o interrompeu. 

"Deixe-me acabar, se me permite eu quero dirigir-me ao tribunal da forma que acho mais conveniente aos meus propósitos", disse o ex-primeiro-ministro. 

Logo no arranque, o principal arguido da operação marques ditou a agenda. Quis começar com a OPA da Sonae sobre a Portugal Telecom. 

A juíza não autorizou e definiu as regras: "Há uma coisa que o senhor desconhece é que não vamos entrar em diálogo." 

Mas entraram várias vezes. E alguns foram estridentes, provocando reações como esta da juíza presidente: 

"Estou a fazer esta advertência porque o senhor não vai continuar com esse tom. O tribunal está a respeitar o senhor arguido e o senhor arguido tem de respeitar o tribunal." 

OPA da PT dominou ssesão da manhã

O tema da OPA da PT dominou toda a sessão da manhã. Em 2007, a SONAE, de Belmiro de Azevedo, quis assumir o controlo da poderosa PortugalTelecom, que tinha o BES como principal acionista. A ideia não agradou a Ricardo Salgado, mas também não agradou ao primeiro-ministro. 

A OPA acabou chumbada e o Ministério Público entende que o Governo de Sócrates, dono, em nome do Estado, de uma posição acionista privilegiada na PT provocou o chumbo para satisfazer Ricardo Salgado. 

Sócrates exibiu um despacho do então secretário de Estado do Tesouro, onde se alegava que o Governo não tomaria posição na OPA. 

Nos argumentos do Ministério Público para provar a cumplicidade entre Sócrates e Ricardo Salgado estão as escutas de três telefonemas entre o ex-banqueiro e o ex-primeiro ministro, que foram reproduzidas na sessão da tarde. 

A SIC exibiu essas escutas de abril, julho e outubro de 2014, numa Grande Reportagem que fez em 2020 sobre a operação marques. 

As escutas coincidem com um período em que Ricardo Salgado já estava em queda desamparada.  

Na sessão desta terça-feira, a juíza, entendeu que estas conversas são sinal de proximidade entre os dois agora arguidos, mas à saída do tribunal Sócrates voltou a referir que não tinha uma próxima com Salgado. 

No entanto, nas escutas de outubro de 2014 o ex-banqueiro chegou mesmo a convidar o antigo chefe do Governo para jantar em sua casa, um convite que foi aceite.  

José Sócrates continuará o depoimento esta quarta-feira.