TAP: o futuro e as polémicas

Inquérito TAP: Bloco de Esquerda quer ouvir Costa e responsáveis das secretas

O Bloco de Esquerda apresentou um requerimento para ouvir o primeiro-ministro, "de preferência presencialmente", e o diretor do SIS e a secretária-geral do SIRP na comissão de inquérito à TAP. O pedido acontece após a audição de João Galamba.

Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do Bloco de Esquerda (BE)
Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do Bloco de Esquerda (BE)
PAULO NOVAIS
Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do Bloco de Esquerda (BE)
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O Bloco de Esquerda (BE) pediu ainda acesso às cópias dos protocolos entre o Governo e os serviços secretos que foram invocados pela chefe de gabinete do ministro João Galamba, Eugénia Correia, para ter contactado o Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP) na noite de 26 de abril, por alegado roubo de um computador do Estado pelo ex-adjunto Frederico Pinheiro.

Em declarações aos jornalistas no parlamento, o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, defendeu que o primeiro-ministro "não pode ficar impávido e sereno" pelo que considera serem contradições entre os depoimentos da chefe de gabinete, Eugénia Correia, e do ministro das Infraestruturas.

"Por lei, sabemos que o primeiro-ministro e o Presidente da República podem escolher responder por escrito, mas consideramos que, face à gravidade da matéria, António Costa devia responder presencialmente", defendeu.

Após as audições de quarta e quinta-feira na comissão de inquérito, o líder parlamentar do BE defendeu que se manifesta "a completa impossibilidade de manter João Galamba no Governo", mas se justifica igualmente ouvir o primeiro-ministro.

"As responsabilidades são muitas e dizem-lhe respeito a ele diretamente", justificou.

A IL já tinha anunciado um requerimento para ouvir António Costa no inquérito à TAP, tendo em seguida o Chega manifestado a mesma intenção e acrescentado um pedido de audição do ministro da Administração Interna.

Para Pedro Filipe Soares, após as audições parlamentares do ministro das Infraestruturas e da sua chefe de gabinete, "está por explicar o que justifica" a ação do Serviço de Informações e Segurança (SIS) para "a meio da noite, contactar um cidadão para lhe exigir um computador".

"O primeiro-ministro disse publicamente que não foi contactado, mas sabemos que membros do seu gabinete foram contactados e deram ordens para que o SIS fosse envolvido. Essas ordens não tiveram responsabilidade do primeiro-ministro? É algo que está por esclarecer", disse o líder parlamentar do BE.

Por outro lado, acrescentou Pedro Filipe Soares, o ministro João Galamba afirmou não ter contactado diretamente o SIS, ação da responsabilidade da sua chefe de gabinete "e previamente à sua indicação".

"No entanto, a linha do tempo diz o contrário: João Galamba falou com o secretário de Estado adjunto [do primeiro-ministro] às 21:52 e que a sua chefe de gabinete contacta o SIRP às 21:54, portanto já depois de João Galamba ter tido a indicação do gabinete do primeiro-ministro que teria de contactar o SIS", afirma, salientando que o ministro nega, contudo, ter dado qualquer indicação a Eugénia Correia.

Por outro lado, o líder parlamentar do BE recorda que, na audição da chefe de gabinete de Galamba, na quarta-feira, foi referida a existência de um protocolo que justificaria o seu contacto com o SIRP.

"Esse protocolo não foi sequer referido nas audições feitas na 1ª Comissão quer à secretária-geral do SIRP, quer ao diretor do SIS. É estranho como um elemento tão importante não tenha sido sequer referido", notou.

Para Pedro Filipe Soares, tal protocolo "parece ser a única fonte de fuga do Governo do mais óbvio".

"O óbvio é que houve de facto uma intervenção do gabinete do primeiro-ministro para que o SIS fosse de facto usado ou instrumentalizado", acusou.

O que disse Galamba aos deputados

Numa audição parlamentar de mais sete horas na comissão de inquérito à gestão política da TAP, que começou na quinta-feira e terminou já hoje de madrugada, o ministro das Infraestruturas, João Galamba, afirmou que quem lhe disse em 26 de abril para contactar os serviços de informações foi o secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, António Mendonça Mendes.

Galamba disse ainda que reportou ao primeiro-ministro, António Costa, já perto da uma da manhã de 27 de abril os acontecimentos no Ministério e lhe contou "que tinha sido ligado ao SIS", chamada que aconteceu horas depois de uma primeira tentativa de contacto em que o chefe do executivo não atendeu.

O ministro confirmou a versão transmitida na véspera pela sua chefe de gabinete - que terá sido Eugénia Correia a reportar ao SIRP (Sistema de Informações da República Portuguesa) e depois contactada pelo SIS --, mas garantiu que não lhe transmitiu qualquer instrução para ligar às 'secretas'.

"O meu telefonema com António Mendonça Mendes termina depois do telefonema de Eugénia Correia com o SIRP", afirmou.

Os incidentes de 26 de abril estão relacionados com Frederico Pinheiro, ex-adjunto do ministro, e envolvem denúncias contra o ex-adjunto por violência física no Ministério das Infraestruturas e o alegado furto de um computador portátil, já depois de ter sido demitido, caso que está a ser investigado pelo Ministério Público.