Depois de meses em silêncio, praticamente desde que se demitiu, o ex-ministro das infraestruturas Pedro Nuno Santos volta esta manhã ao Parlamento, na Comissão de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação. Em causa está o processo de privatização da TAP e a gestão da companhia no período entre 2015 e 2023. Bruno Costa, especialista em Ciência Política, analisa os recentes desenvolvimentos nas comissões parlamentares e o que será de esperar das próximas audições.
João Leão é também ouvido esta terça-feira na Comissão de Inquérito à TAP. O ex-ministro das Finanças partilhava a tutela da companhia aérea com Pedro Nuno Santos na altura em que foi decidida a indemnização a Alexandra Reis. É sobre esse processo que terá de responder esta tarde, bem como sobre a elaboração e a negociação do plano de reestruturação da companhia, e ainda sobre as negociações com David Neeleman.
“A questão central é quem é que deu a ordem e porque motivo houve este pagamento dos 55 milhões a David Neeleman (…) Será interessante ouvir Pedro Nuno Santos em virtude do silêncio a que esteve remetido nestes últimos cinco meses, mas também pelo facto de ser um putativo candidato á sucessão da liderança do PS”, refere Bruno Costa.
Pedro Nuno Santos voltará ao Parlamento no dia 15 de junho, para responder aos deputados da Comissão de Inquérito à TAP, sobretudo sobre o polémico pagamento da indemnização a Alexandra Reis, no valor de meio milhão de euros, que o próprio autorizou.
Na Comissão de Assuntos Constitucionais, está também marcada a audição de António Mendonça Mendes, secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, que vai ter de dar explicações sobre se indicou ou não que o SIS recuperasse o computador de Frederico Pinheiro, ex-adjunto de João Galamba.
Os partidos da oposição já deixaram claro que podem avançar com um inquérito parlamentar às Secretas na sequência da audição desta terça-feira.
“Parece-me que há aqui uma procura de gestão de danos do próprio PS, ou seja, a recusa constante de Mendonça Mendes de responder a uma pergunta simples sobre se houve ou não um contacto a João Galamba na noite 26 de abril, é sinal disso”.
“Obviamente que o PS quer passar rapidamente esta Comissão Parlamentar de Inquérito, o PS procura centrar toda esta comissão no facto do Governo não ter ordenado ou não ter solicitado a intervenção do SIS, enquanto que os partidos procuram aproveitar esta onda para atacar o Governo e daí tirar proveito político”, realça o analista de Ciência Política.
Bruno Costa sublinha ainda que esta tem sido uma “comissão marcada pelo excesso de teatralização” com “detalhes que pouco dizem ao comum cidadão português”.
“Havendo o tal esclarecimento de António Costa às 15 perguntas por escrito do PSD, creio que o foco da atenção está noutras áreas e não propriamente nesta Comissão Parlamentar de Inquérito, a não ser que daqui exista uma informação completamente nova, nomeadamente sobre o conhecimento que o Ministério das Finanças tinha sobre a indemnização a Alexandra Reis ou se, de facto, o Ministério das Infraestruturas tinha acesso a essa informação”, conclui.