Pedro Castro, especialista em aviação e aeroportos, comentou esta terça-feira as buscas que estão a ocorrer na TAP no âmbito de um inquérito à indemnização paga à ex-administradora da companhia aérea Alexandra Reis. Na sua opinião, não é Alexandra Reis que deve ser considerada a "figura central", "nem sequer a TAP", mas sim a decisão política que foi tomada.
"O que estamos aqui a verificar é que houve uma decisão política, assinada obviamente pela CEO e fundamentada, daí a parte dos advogados ter sido tão importante", afirma o especialista
Pedro Castro considera que há um "papel central no escritório de advogados" em toda esta história e "também isso [deve] ser ainda mais relevante [na investigação] para ver se há alguma teia de decisão política" e essa é "muito mais sancionável".
"Eu acredito que Pedro Nuno Santos, quando colocou Alexandra Reis na NAVE, sabia perfeitamente o que estava a fazer", considera.
Já no seio da TAP, admite que seja necessária a busca porque será ali que estarão os documentos, mas "não é a TAP enquanto empresa, nem sequer esta administração, que me parece que esteja colocada em causa". Ainda assim, admite que "em termos reputacionais", a imagem da TAP fica afetada.
"É quase como um alerta para os futuros investidores que a TAP têm esqueletos nos armários e que estes esqueletos podem aparecer a qualquer momento", aponta o especialista.
A polémica indemnização de meio milhão de euros e os três anos de demora
Em dezembro de 2022 a TAP esteve envolvida numa polémica devido ao pagamento de uma indemnização de 500 mil euros à então administradora Alexandra Reis pela sua saída antecipada da companhia.
Apesar de já terem passado três anos desde que o caso ficou conhecido, as buscas surgem agora, anunciadas pelo Ministério Público, e abrangem ainda um escritório de advogados em Lisboa e "pesquisas em equipamentos informáticos da Secretaria-Geral do Governo".
Para o especialista de aviação "não surpreende" que as buscas cheguem só agora uma vez que a "justiça em Portugal é muito lenta". Pedro Castro afirma ainda que "não é um acaso que uma ex-administradora da TAP" saia da administração da companhia aérea para a NAVE e que "depois o escândalo só saia" quando Reis sai da NAVE para o Ministério das Finanças.
"Permita-me que diga que eu acho que a investigação deve também centrar-se sobretudo sobre os políticos que fizeram e que estiveram por trás de toda esta dança de cadeiras", sublinhou.