Meteorologia

Recorde de temperatura: "A questão não é se vai acontecer, mas quantas vezes e quando"

Segunda-feira foi o dia mais quente de sempre no mundo. Segundo a Organização Meteorológica Mundial, novos recordes podem vir a ser registados. O climatologista Mário Marques alerta para os perigos da subida das temperaturas mínimas.

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Há mais um recorde de temperatura batido: esta segunda-feira, 3 de julho, foi o dia mais quente no mundo, desde que há registos. A temperatura média do dia ultrapassou, pela primeira vez, os 17ºC.

O valor supera o anterior recorde, estabelecido a 24 de julho de 2022, de 16,92ºC. A Organização Meteorológica Mundial avisa que podem vir a ser registados novos recordes no aumento das temperaturas globais, devido ao El Niño – um fenómeno climático afeta o Pacífico.

Mário Marques, climatologista do Plano Clima, afirma que também este recorde será batido: “A questão não é se vai acontecer, mas quantas vezes e quando poderá acontecer nas próximas décadas”, afirma em declarações à Edição da Manhã da SIC Notícias.

“O que isto nos indica é que estamos a aquecer cada vez mais. Sobretudo em termos de temperatura média, é a mínima que está mais a aumentar”, explica o especialista.

Para Mário Marques, a subida da temperatura mínima é “deveras preocupante”, uma vez que este aumento irá ter impacto na região do Ártico, aumentando o ritmo de degelo das calotes polares.

“A temperatura mínima, ao subir de forma categórica e substancial, também irá afetar todas as calotes de gelo e provocar, no futuro breve – não a muito longo prazo, como muitos pensam – um degelo das calotes polares no Ártico e, consecutivamente, uma grande intrusão de água doce nos oceanos e consecutivo de aumento [do nível médio do mar]”.

O climatologista sublinha que o aumento sucessivo da temperatura está a “acelerar de forma muito intensa a circulação normal da atmosfera”, reduzindo as alterações que deveria acontecer em “séries de centenas ou milhares de anos” para “dezenas de anos”.

O especialista sublinha que a comunidade científica já tem vindo a alertar para este problema há várias décadas, mas pouco ou nada se faz para travar as alterações climáticas e o aquecimento global.

“Já andamos a falar nisto há gerações, penso eu. Podemos dizer que desde os anos 1970 que a comunidade científica tem alertado para este fenómeno e pouco ou nada se fez. Mitiga-se um pouco e fala-se, conversa-se nas COP [Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas], assina-se papéis, tratados, mas nada sai do papel.”

Mário Marques sublinha o papel da desflorestação na agudização do problema, uma vez que são estas áreas naturais que atuam como reguladores da temperatura do planeta. Em 2022, a Terra perdeu uma área de floresta tropical equivalente ao tamanho da Suíça.