A Terra viveu este ano o verão mais quente jamais registado no Hemisfério Norte. Os meses de julho e agosto registaram recordes, culminando numa estação de temperaturas brutais e mortíferas, anunciou esta quarta-feira a Organização Meteorológica Mundial (OMM).
O mês de julho bateu o recorde de mês mais quente desde que há registo com equipamento moderno, seguido de perto por agosto, que ocupou o segundo lugar. Apesar da “medalha de prata”, a OMM e o serviço climático europeu Copernicus destacam que o mês de agosto foi também o mais quente em comparação com períodos homólogos .
"Os três meses que acabámos de viver são os mais quentes desde há cerca de 120 mil anos, ou seja, desde o início da história da humanidade", disse à AFP a chefe-adjunta do Serviço de Alterações Climáticas do Copernicus, Samantha Burgess.
Agosto foi cerca de 1,5ºC mais quente do que as médias pré-industriais, que é o limiar de aquecimento que o mundo está a tentar não ultrapassar.
Mas o limiar de 1,5ºC é calculado ao longo de décadas, e não apenas num mês, pelo que os cientistas não consideram essa breve passagem assim tão significativa, segundo a agência norte-americana AP.
O Hemisfério Sul, onde muitos recordes de calor foram batidos em pleno inverno austral, não foi poupado, de acordo com o Copernicus, citado pela agência francesa AFP:
“A estação de junho-julho-agosto de 2023, que corresponde ao verão no Hemisfério Norte, onde vive a grande maioria da população mundial, foi de longe a mais quente alguma vez registada no mundo, com uma temperatura média global de 16,77ºC.”
Este valor é 0,66°C superior às médias para o período 1991-2020, já marcado por um aumento das temperaturas médias globais devido ao aquecimento global provocado pela atividade humana. Também é cerca de 2 décimas acima do anterior recorde estabelecido em 2019.
2023 já é o segundo ano mais quente de sempre
Até ao momento, 2023 é o segundo ano mais quente de que há registo - atrás de 2016, ano em que ocorreu o fenómeno El Niño. Nos primeiros oito meses do ano, a temperatura média global está "apenas 0,01 °C atrás de 2016, o ano mais quente alguma vez medido".
"É provável que 2023 seja o ano mais quente (...) que a humanidade alguma vez conheceu", afirma Samantha Burgess.
Apesar de três anos sucessivos de La Niña - o fenómeno oposto ao El Niño, que mascarou parcialmente o aquecimento - os anos 2015-2022 já foram os mais quentes alguma vez medidos, segundo a base de dados do Copernicus - que remonta a 1940, mas que pode ser comparada com milénios passados, com base em anéis de árvores ou núcleos de gelo.
O sobreaquecimento dos mares, que continuam a absorver 90% do excesso de calor causado pela atividade humana desde a era industrial, desempenha um papel importante neste fenómeno. Desde abril, a temperatura média dos mares à superfície tem vindo a aumentar para níveis sem precedentes.
De 31 de julho a 31 de agosto, "ultrapassou mesmo todos os dias o recorde anterior, estabelecido em março de 2016", segundo o Copernicus, atingindo a marca simbólica sem precedentes de 21°C, muito acima de todos os registos.
"O aquecimento dos oceanos leva a um aquecimento da atmosfera e a um aumento da humidade, o que resulta em chuvas mais intensas e mais energia disponível para os ciclones tropicais", explicou Burgess.
O sobreaquecimento também afeta a biodiversidade por haver "menos nutrientes no oceano e menos oxigénio", o que ameaça a sobrevivência da flora e da fauna, referiu. A cientista citou ainda o branqueamento dos corais, a proliferação de algas nocivas e "o potencial colapso dos ciclos reprodutivos".
"As temperaturas continuarão a subir enquanto não fecharmos a torneira das emissões", principalmente as provenientes da queima de carvão, petróleo e gás, alertou, a três meses da COP28 no Dubai.
A Conferência das Nações Unidas sobre o Clima, em que se espera uma batalha sobre o fim dos combustíveis fósseis, deverá colocar a humanidade de novo no caminho do Acordo de Paris.
O acordo previa limitar o aquecimento global a muito menos de 2ºC e, se possível, a 1,5°C, em comparação com a era pré-industrial.