Nas alegações finais, o advogado de Demjanjuk, Ulrisch Busch, considerou o arguido, de 91 anos, inocente, afirmando que não era possível "constatar a culpa individual, com base nos documentos existentes".
Busch apoiou a tese numa ata datada de 2003 da Repartição Central de Pesquisas dos Crimes Nacional-Socialistas cometidos durante a Segunda Guerra Mundial, alegando também que Demjanjuk, um ex-soldado soviético de origem ucraniana, não foi guarda voluntariamente, mas sim para salvar a própria vida, como prisioneiro de guerra dos nazis.
O ministério público baseou a acusação no depoimento do único prisioneiro ainda vivo que esteve em Sobibor, Jules Schelvis, e num cartão de identidade de guarda do campo com a foto Demjanjuk que lhe foi passado, em 1942, pelas SS, tropa de elite que tutelava os campos de concentração e extermínio nazis.
O julgamento foi considerado histórico, já que Demjanjuk, foi o primeiro prisioneiro de exército nazi instruído para trabalhar num campo de concentração a ser levado à barra do tribunal na Alemanha por crimes de guerra.
Em anterior audiência, o procurador público de Munique acusou Demjanjuk de ter participado ativamente no Holocausto e de saber perfeitamente que o campo de Sobibor se destinava ao extermínio de judeus.
O arguido compareceu às audiências em cadeira de rodas, sendo depois colocado numa cama, e o julgamento sofreu vários atrasos, devido ao precário estado de saúde.
Uma junta médica decidiu logo no início do processo, a 30 de novembro de 2009, que Demjanjuk só podia ser julgado durante um período máximo de 90 minutos por dia, para não agravar as doenças.
Desde então, realizaram-se mais de 80 sessões no Tribunal regional de Munique.
Atualmente apátrida, o réu foi extraditado dos Estados Unidos, onde foi operário da indústria automóvel e constituiu família - para a Alemanha, em maio de 2009.
Logo a seguir à Segunda Guerra Mundial, Demjanjuk trabalhou como motorista na Alemanha, razão pela qual a justiça deste país resolveu julgá-lo.
Na década de 1950, emigrou para os Estados Unidos, onde obteve a nacionalidade norte-americana, retirada em 2002, por ter ocultado as atividades durante a guerra, no processo de naturalização.
Em 1988, chegou a ser condenado à morte em Israel, por ter sido confundido com outro guarda ucraniano do campo de concentração nazi de Treblinka, por alcunha "Ivan o Terrível", devido às atrocidades que cometeu sobre prisioneiros.
Quando se constatou o erro jurídico, o Supremo Tribunal israelita ordenou a libertação de Demjanjuk, após cinco anos de prisão.
O ex-guarda de Sobibor regressou aos EUA, para mais tarde cair sob a mira da justiça alemã.
Libertado apesar da condenação
John Demjanjuk vai ser libertado, anunciou o tribunal de Munique (sul da Alemanha).
O presidente do tribunal, o juiz Ralph Alt, justificou a decisão pela idade do condenado (91 anos), pelo facto de não apresentar qualquer risco e por Demjanjuk não poder sair do país uma vez que é apátrida, sem documentos de identidade.
Por outro lado, podem decorrer vários meses até que o veredito seja definitivo, período durante o qual poderá recorrer.
"Ele vai deixar a prisão hoje", precisou a porta-voz do tribunal, Margarete Noetzel.
Lusa