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Corpo da indiana vítima de violação coletiva foi hoje cremado em Nova Deli

A indiana de 23 anos que morreu na sequência  da violação coletiva de que foi vítima a 16 de dezembro foi hoje cremada  numa cerimónia realizada em Nova Deli, informou a polícia local. 

O primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, esperou no aeroporto internacional  Indira Gandhi, em Nova Deli, pela chegada do corpo da jovem para manifestar  as suas condolências à família (AP/ Arquivo)
Saurabh Das

"Estamos a pedir às pessoas para não entrarem no local da cremação,  uma vez que a família pediu para que esta fosse uma cerimónia privada",  disse um polícia citado pela agência noticiosa AFP. 

O funeral teve lugar no distrito de Dwarka, em Nova Deli, onde a jovem  vivia quando estudava medicina e, segundo um agente da polícia, alguns políticos  marcaram presença na cerimónia. 

Vários polícias concentraram-se nas imediações do local onde decorreu  o funeral, realizado cerca de quatro horas depois de o corpo da vítima ter  chegado a Nova Deli proveniente de Singapura, onde a jovem estava internada  e acabou por morrer no sábado. 

O primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, esperou no aeroporto internacional  Indira Gandhi, em Nova Deli, pela chegada do corpo da jovem para manifestar  as suas condolências à família.  

Milhares de pessoas realizaram uma vigília à luz das velas na noite  de sábado em Nova Deli, bem como noutras localidades do país, como Mumbai,  Calcutá e Hyderabad, depois de Singh ter apelado à calma para evitar novos  protestos violentos e a polícia ter indicado que os seis homens acusados  de homicídio da jovem arriscam a pena de morte. 

Nova Deli tem sido considerada a "capital da violação" da Índia, registando  em média um caso a cada 18 horas, segundo os dados da polícia. De acordo  com a edição de hoje do jornal Hindustan Times, mais de 20 mulheres foram  violadas desde 16 de dezembro, mas a realidade deve superar esse número,  já que a maioria das vítimas acaba por não denunciar os casos de violação.

Debangana, de 16 anos, vive em Bengala Ocidental e no verão de 2010,  quando trabalhava na loja da família em Sonarpur, dois rapazes ofereceram-lhe  um refrigerante, que continha sedativos.  

Quando acordou, a jovem, com 14 anos na altura, estava num comboio com  três homens, que a tinham sequestrado e levado para um apartamento em Nova  Deli. 

"Fecharam-me num quarto, forçaram-se a ficar em silêncio atacando-me  com sapatos e paus, enquanto me violavam", contou em declarações à AFP.

A jovem foi depois vendida a um bordel de Nova Deli, onde alega ter  sido "explorada durante um ano" e acabou por ser resgatada com outras 10  raparigas pela polícia. 

Ao chegar a casa não obteve apoio para denunciar o seu caso. "Na cidade,  uma rapariga tem a liberdade de decidir, mas numa aldeia tem de obedecer  ao seu pai, irmãos, aos homens", constatou. 

Debangana decidiu mesmo assim apresentar queixa na polícia, contando  com o apoio legal oferecido por uma organização voluntária. 

Três dos seus raptores foram detidos e acusados, mas dois anos depois  foram libertados. A casa da sua família foi destruída e o campo de arroz  que cultivava também, depois de ter recusado desistir do caso. 

A jovem estudante de Nova Deli "morreu e eu tenho de viver para continuar  a lutar", concluiu Debangana. 

Lusa