Em Reyhanli, uma localidade vizinha de 60.000 habitantes na província de Hatay, situada a oito quilómetros da fronteira síria e onde se concentram milhares de refugiados civis e rebeldes sírios, duas viaturas armadilhadas explodiram em frente à câmara municipal e ao edifício dos correios provocando 48 mortos e mais de 100 feridos.
Ancara responsabilizou o regime de Damasco pelo massacre, mas para os milhares de manifestantes que hoje protestaram na província de Hatay, será o governo turco que deve assumir as consequências dos atentados, com origem na forte oposição da Turquia ao Presidente sírio Bachar al-Assad e no apoio aos diversos grupos rebeldes que atuam no país vizinho. "Pretendemos que o governo abandone o seu apoio aos rebeldes islamitas", referiu, citado pela agência noticiosa AFP, Mahir Mansuroglu, porta-voz do centro comunitário da província de Hatay, um grupo heterogéneo de simpatizantes de esquerda, nacionalistas, muçulmanos ou cristãos, e que tentam unificar os protestos.
Diversos veículos da polícia seguiram discretamente o cortejo em Antakya, sem registo de incidentes numa cidade que acolhe diversas etnias e religiões, em particular muçulmanos sunitas, alevitas (seguidores de um ramo do islão xiita) e cristãos.
A presença no território turco de cerca de 400 mil refugiados sírios está a comprometer este frágil equilíbrio multiétnico, em particular na província de Hatay, que também acolhe uma forte comunidade alauita, a confissão do Presidente sírio.
Três dias após os atentados, as autoridades turcas continuam a responsabilizar um grupo marxista radical com ligações a Damasco pela autoria do duplo atentado. No entanto, a população destas regiões fronteiriças denuncia com crescente veemência o apoio do Governo aos rebeldes, na sua maioria sunitas. "Aqui, as pessoas insistem simplesmente que não pretendem ver mais jihadistas com longas barbas a passearem-se nas suas ruas", insistiu Mansuroglu, numa referência à fação mais radical e islamizada da rebelião síria.
"Estas grandes manifestações são a consequência natural da política do Governo", acusou por sua vez Semir Baklaci, um dos responsáveis locais do Partido Republicano do Povo (CHP), a maior força da oposição. "Cada vez que existe uma possibilidade real de diálogo na Síria, surge este género de acontecimento", sustentou.
Enquanto os habitantes da Reyhanli continuam a especular que o balanço dos atentados é "pelo menos o dobro" do anunciado, Baklaci referiu-se a uma "sabotagem da Al-Qaida" e disse que os ataques foram efetuados por rebeldes com ligações à rede islamita, para justificar uma intervenção militar na Síria.
Outros manifestantes sugeriram ainda que os atentados de sábado vão ser um "trunfo" que o primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan vai apresentar na sua visita a Washington na próxima quinta-feira, onde se espera que apele a uma intervenção da NATO contra o regime sírio apesar dos crescentes receios sobre o impacto do conflito em toda a região.
Muitos dos habitantes que habitam junto à fronteira com a Síria, sublinha a AFP, manifestam crescente preocupação por uma eventual intervenção internacional, que na sua opinião apenas trará mais refugiados e novos focos de turbulência.
Lusa