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Leites em pó para bebés podem ter bactérias, OMS recomenda cuidados na preparação

Os leites em pó para bebés podem conter bactérias nocivas, o que leva a Organização Mundial da Saúde a recomedar que sejam preparados com água a 70 graus e a apelar aos fabricantes para darem esta indicação aos consumidores. 

(Reuters/ Arquivo)
© Michaela Rehle / Reuters

Érica Lopes, enfermeira e organizadora de um seminário sobre preparação  e manuseamento de fórmulas em pó para lactentes, considera que este tema  é pouco divulgado em Portugal, mesmo entre os profissionais de saúde. 

Em Portugal, as autoridades não têm normas sobre este assunto, mas a  Organização Mundial da Saúde (OMS) avisa que os processos de fabrico dos  leites em pó não são estéreis, podendo estas ficar contaminadas com duas  bactérias: Enterobacter sakazakii e Salmonella entérica. 

Segundo uma avaliação de risco realizada pela OMS e pela Organização  das Nações Unidas para a Alimentação (FAO), em 2006, os leites em pó nunca  devem ser preparados com água a uma temperatura inferior a 70 graus.  

Apesar disso, alguns fabricantes indicam, nos rótulos dos seus produtos,  que o leite pode ser preparado com água a 30 ou a 40 graus. 

"Quando se prepara a fórmula com água a menos de 70 graus, a temperatura  não é suficiente para inativar por completo" os micro-organismos nocivos,  refere a OMS nas suas orientações, recomendando que as instruções dos fabricantes  sejam revistas. 

Érica Lopes, uma das organizadoras do seminário que hoje decorre em  Lisboa, considera que deve haver normas e orientações uniformes e claras  para a preparação para as fórmulas de leite, quer em casa, quer em instituições,  como creches. 

"Como profissional de saúde, tento acompanhar o que diz a OMS e como  consumidora quero saber se há riscos. No fundo, queremos dar uma escolha  informada ao consumidor", referiu à agência Lusa a enfermeira e conselheira  de amamentação. 

Além de discutir o tema, os organizadores pretendem que do seminário  saia um grupo multidisciplinar que crie um documento de consenso, propondo  boas práticas para a preparação, manuseamento e armazenamento das fórmulas  em pó para lactentes. 

Para evitar conflitos de interesse, a organizadora salienta que não  foram aceites para o seminário patrocínios ou apoios de empresas que comercializam  substitutos do leite materno ou produtos como tetinas e biberões. 

Outro dos organizadores do encontro, Ricardo Assunção, realizou em 2008  um estudo sobre a presença de micro-organismos nas fórmulas de leite na  região de Lisboa, tendo confirmado a ideia de que estes leites em pó não  são produtos estéreis. 

Embora nas amostras analisadas tenha encontrado níveis de contaminação  muito reduzidos, detetou também a presença de uma bactéria ambiental que  já esteve implicada em surtos associados a cuidados intensivos neonatais.

No final do estudo realizado na Universidade Técnica de Lisboa,  Ricardo  Assunção recomenda que as mães que não possam ou não queiram amamentar sejam  alertadas para o facto de as fórmulas infantis em pó não serem estéreis  e que determinados agentes podem ser responsáveis por situações graves de  doença. 

Além disso, é ainda sugerido que se melhore a rotulagem dos produtos  e que se desenvolvam diretrizes transversais para preparação e uso destes  leites em pó. 

Lusa