Numa entrevista exclusiva à agência noticiosa francesa AFP, realizada no domingo, no palácio do Povo em Damasco, Al-Assad declarou que "é possível dizer que o regime está a conseguir progressos na luta antiterrorista, o que não significa que a vitória seja iminente".
"Este género de batalha é complicado, não é fácil e exige muito tempo", afirmou, rejeitando qualquer distinção entre rebeldes e combatentes islamitas que, desde 2011, lutam contra o regime no poder na Síria.
"Se a Síria perder esta batalha, isso significa que o caos se vai estender a toda a região do Médio Oriente", avisou o Presidente sírio.
Por isso, definiu como prioridade da conferência de paz Genebra 2, que deverá realizar-se na quarta-feira, a luta contra o terrorismo na Síria, numa referência à rebelião armada.
"A conferência de Genebra deve levar a resultados claros em relação à luta contra o terrorismo (...) qualquer resultado político que não inclua a luta contra o terrorismo não tem qualquer valor", sublinhou.
Bashar al-Assad defendeu que as forças do regime não tinham cometido "qualquer massacre" desde o início da guerra, acusando os rebeldes de assassinar civis "por todo o país".
"O Estado sírio continua a defender os civis. As sequências de vídeo e fotografias confirmam que são os terroristas que cometem massacres. Não há nenhum documento que prove que o governo sírio cometeu qualquer massacre desde o início da guerra até ao momento", garantiu.
"Considero que nada me impede de me apresentar como candidato", a um novo mandato em junho, excluindo confiar a chefia de um futuro gGoverno a um opositor.
"Se a opinião [pública] o desejar não hesitarei um segundo em apresentar a minha candidatura. Resumindo, podemos dizer que há fortes hipóteses de me candidatar", declarou Al-Assad, sorridente e aparentemente descontraído.
De 48 anos, Bashar al-Assad está no poder desde julho de 2000, sucedendo ao pai Hafez al-Assad, morto em junho de 2000 depois de ter dirigido o país durante 30 anos.
O Presidente sírio negou qualquer representatividade da oposição e afirmou que esta era "fabricada" por serviços secretos estrangeiros.
"Eles entram nas fronteiras [sírias] por meia hora antes de fugirem, como podem ser membros de um Governo? Será que um ministro pode exercer as suas funções a partir do exterior? Tais ideias são totalmente irrealistas, podemos considerá-las uma piada", disse Al-Assad, que enviou uma delegação à conferência de Genebra.
Rejeitou também qualquer diferença entre rebeldes e combatentes islâmicos.
"Estamos perante uma única parte, a saber organizações terroristas extremistas independentemente do modo como são identificados nos 'media' ocidentais", afirmou.
Al-Assad, que vive em Damasco com a mulher e os três filhos, esclareceu que nunca pensou em fugir do país, desde o início do conflito.
"Fugir não é uma opção neste caso. Devo estar na primeira fila dos defensores da pátria. Este é o único cenário desde o primeiro dia da crise", frisou.
O Presidente sírio acusou ainda a França, que apoia a rebelião na Síria, de se ter transformado "num vassalo" do Qatar e da Arábia Saudita, em troca de "petrodólares".
"A França tornou-se num país vassalo, que executa a política do Qatar e da Arábia Saudita. Como podem os petrodólares levar alguns responsáveis ocidentais, nomeadamente em França, a trocar os princípios da Revolução Francesa por alguns milhões de dólares", perguntou Al-Assad.
Por outro lado, o Presidente sírio acusou o tribunal internacional, que está a julgar quatro membros do Hezbollah (movimento de resistência xiita) no caso do homicídio do ex-dirigente libanês Rafic Hariri, de "estar politizado" e de "querer pressionar" o partido, que luta ao lado do regime sírio.
"Não vimos qualquer prova tangível contra as partes implicadas no caso (...) tudo o que se passa está politizado e visa pressionar o Hezbollah no Líbano, como na Síria, no passado, imediatamente após o assassínio de Hariri", disse.
Al-Assad referia-se a um relatório preliminar do inquérito internacional que tinha, inicialmente, implicado a Síria no homicídio de Hariri, a 14 de fevereiro de 2005, em Beirute.
Dois meses após o homicídio de Rafic Hariri, que era primeiro-ministro antes de se tornar um opositor à hegemonia de Damasco, as tropas sírias retiraram do Líbano, após 30 anos de presença, sob pressão popular e da oposição no Líbano e da comunidade internacional.
Em meados do ano passado, o Hezbollah, aliado próximo do poder na Síria, anunciou ter enviado homens para combater os rebeldes, ao lado das forças do regime sírio.
Lusa