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Refugiadas sírias com famílias a cargo são mais de 145 mil

Mais de 145.000 famílias refugiadas sírias, um quarto do total, estão a cargo de mulheres que lutam contra a falta de recursos, o isolamento e o medo, revela um relatório da ONU hoje divulgado.

© Murad Sezer / Reuters

O relatório "Mulher sozinha -- a luta pela sobrevivência das mulheres  refugiadas sírias", do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados  (ACNUR), baseia-se no testemunho de 135 daquelas mulheres "obrigadas a assumirem  sozinhas a responsabilidade das suas famílias depois de os seus maridos  terem sido mortos, raptados ou separados delas".  

Ficam "presas numa espiral de pobreza, isolamento e medo", assinala  a agência da ONU no comunicado de divulgação do relatório.  

Os testemunhos das mulheres foram recolhidos durante três meses no início  de 2014 e a maior dificuldade que estas assinalaram foi "a ausência de recursos".

"A maioria das mulheres luta para pagar o alojamento e comprar comida  e produtos domésticos de primeira necessidade. Muitas já esgotaram as suas  economias e tiveram de vender até a aliança", indica o comunicado. 

Segundo o ACNUR, "apenas um quinto delas tem emprego remunerado" e "apenas  um quinto tem apoio de outros adultos próximos", "algumas beneficiam da  generosidade local" e algumas contam com o trabalho de filhos. 

Um quarto recebe ajuda do ACNUR e de outras organizações humanitárias,  dois terços das quais dependem totalmente dessa assistência, indica ainda  a agência da ONU, assinalando que "um terço das mulheres afirma não ter  o suficiente para comer". 

Além disso, "60 por cento das mulheres interrogadas exprimiram um sentimento  de insegurança e uma em cada três está demasiado assustada ou sobrecarregada  para sair de casa". Das que saem, muitas queixam-se de serem "assediadas  verbalmente" com regularidade. 

A maioria das mulheres está preocupada com o impacto da situação nos  seus filhos, adianta. 

"Para centenas de milhares de mulheres, fugir do seu país em ruína foi  apenas uma primeira etapa de um percurso cheio de dificuldades", declarou  o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, António Guterres,  citado no comunicado. 

Face à situação expressa no relatório, o ACNUR apela aos doadores, aos  governos dos países de acolhimento e às organizações humanitárias para tomarem  rapidamente novas medidas. 

Angelina Jolie, emissária do ACNUR, afirmou: "As mulheres refugiadas  sírias mantêm os laços numa sociedade dividida. Têm uma força extraordinária,  mas lutam sozinhas. As suas vozes são um apelo à ajuda e à proteção que  não pode ser ignorado". 

Existem atualmente 2,8 milhões de refugiados sírios, calculando-se que  no final do ano atinjam um total de 3,6 milhões.