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Gregos regressam às urnas dia 25 divididos entre a esperança e o medo

A esperança de uma viragem política ou o receio de novas experiências vão confrontar-se nas legislativas antecipadas na Grécia de 25 de janeiro focalizadas em dois homens, o líder de esquerda Alexis Tsipras e o primeiro-ministro conservador Antonis Samaras. 

Acrópole de Atenas (Arquivo AP)
AP
A eventual inversão de um ciclo de seis anos consecutivos de recessão e quatro de duras medidas de austeridade, após os recentes sinais de retoma económica, estão a ser aproveitados pelo primeiro-ministro conservador e líder da Nova Democracia (ND) para sublinhar a ligação do país à Europa e agitar o fantasma de uma saída do euro. 

A estratégica, que deu resultado nas legislativas antecipadas de 2012, destina-se a tentar impedir uma vitória do partido da esquerda anti-austeridade Syriza, liderado por Tsipras, que venceu as eleições europeias de maio de 2014 e continua a liderar as sondagens. 

O alerta de Samaras tem sido um argumento recorrente da sua campanha e o governo alemão parece partilhar a mesma posição, como sugeriu no início do ano o semanário Der Spiegel ao referir que Berlim considera "quase inevitável" uma saída da Grécia do euro em caso de vitória do Syriza. 

Acusada de exercer pressões sobre o eleitorado grego, a Comissão europeia optou pela contenção, com o comissário para os Assuntos económicos, Pierre Moscovici, a afirmar que "a Comissão não vai tomar posição" durante a campanha. 

No entanto, de Bruxelas e das principais capitais europeias já veio um aviso: todos os compromissos assumidos pelo país "devem ser cumpridos", numa referência aos dois planos de resgate negociados com a 'troika' de credores internacionais (Comissão Europeia, BCE e FMI) que ascendem a 240 mil milhões de euros. E às respetivas medidas de austeridade e a um amplo plano de privatizações. 

Após o falhanço do parlamento em eleger o novo presidente do país, que tornou inevitáveis as legislativas antecipadas, Samaras insistiu que o principal desafio das eleições residia na "manutenção do país na zona euro". 

E já em plena campanha, advertiu que a aplicação do programa do Syriza -- que pretende pôr fim à política de austeridade e negociar a redução da dívida do país (177% do PIB previsto para 2014) -- "conduziria inevitavelmente à falência". 

De acordo com as sondagens, uma larga maioria dos gregos desejam permanecer na zona euro e o Syriza nunca sugeriu a deserção da União Europeia, e em particular da zona euro. 

Mas ao insistir no "discurso do medo", o líder da direita grega pensa que ainda se mantém eficaz junto do eleitorado que foi menos atingido pela crise e receia a mudança. 

Os receios de um governo da "esquerda radical" e a indefinição sobre a política de alianças para a formação do novo executivo podem pesar no resultado do escrutínio, e mesmo que os dois partidos tradicionais coligados no poder (ND e Partido Socialista Pan-Helénico, Pasok), tenham registado desde 2012 fortes recuos eleitorais, em particular a formação social-democrata. 

Mergulhada na recessão desde 2008, a Grécia assistiu à explosão do desemprego (que ainda ultrapassa os 25%), a reduções salariais entre os 30 e os 40%, ao envio de 20% da população para o limiar da pobreza. Em 2014, indicam as estatísticas, conheceu por fim dois trimestres consecutivos de PIB positivo e que serviram de argumento ao poder para anunciar o "princípio do fim" dos sacrifícios. 

Os argumentos do Syriza para desmontar o discurso oficial também deverão pesar nos resultados que serão divulgados ao início da noite de 25 de janeiro. Para além da capacidade de o partido se apresentar coeso, e quando começam a surgir algumas vozes dissonantes vindas da ala mais à esquerda, que defendem a suspensão do reembolso dos empréstimos internacionais e quando Tsipras propõe a negociação.  

Diversos observadores assinalaram uma "suavização" do discurso do Syriza nas últimas semanas, com a visita de diversos responsáveis aos banqueiros da City de Londres, mas os mercados permanecem inquietos sobre o possível abandono das reformas económicas. 

O partido que aglutina a maioria da esquerda grega recebeu com entusiamos a antecipação do escrutínio e prognosticou um "governo de salvação nacional em 2015" sob a sua liderança. 

Caso se concretize a profecia, Tsipras e os seus economistas terão a árdua tarefa de negociar com os credores internacionais, após o governo Samaras ter garantido com a zona euro a extensão por dois meses do plano de resgate, que deveria terminar no final de dezembro.

E quando os credores (UE e FMI) anunciaram, logo após a convocação do escrutínio, a suspensão do envio de novas parcelas do empréstimo até à divulgação dos resultados eleitorais. 


Lusa