O partido de Pablo Iglesias (69 deputados) é fundamental para o PSOE formar governo em Espanha, já que os socialistas apenas somam 90 deputados e o partido que ganhou as eleições de 20 de dezembro, o PP (123 assentos), já afirmou que pretende votar contra um governo de coligação de esquerdas.
O Podemos afastou-se das negociações iniciadas pelo secretário-geral do PSOE, Pedro Sánchez, uma vez que os socialistas também procuraram o apoio do Ciudadanos (centro-direita, 40 deputados). Pablo Iglesias fez um "ultimato" a Sánchez: ou conta com o Podemos ou com o Ciudadanos, não poderá ter os dois.
No entanto, no dia em que o presidente do Congresso dos Deputados agendou o dia 2 de março para a primeira votação de investidura de Sánchez, Iglesias tentou retomar a iniciativa, apresentando um programa de 98 páginas com as linhas de negociação do seu partido para um eventual governo de esquerda.
A 22 de janeiro, Iglesias tinha proposta aos socialistas um governo de coligação PSOE-Podemos-Izquierda Unida (IU) com a vice-presidência e pelo menos cinco ministérios para o seu partido. O PSOE - que preferiria formar governo sozinho com acordos de apoio parlamentar - recusou falar dessa possibilidade, preferindo discutir "políticas e não distribuição de lugares".
No entanto, no documento de hoje consta como imprescindível a realização de um referendo sobre a autodeterminação da Catalunha, uma das linhas vermelhas do PSOE e do seu máximo órgão entre congressos, o Comité Federal, no qual têm assento os principais "barões regionais" socialistas.
Ou seja, basta que o Podemos não levante apenas este obstáculo e Pedro Sánchez já não tem mandato do seu próprio partido para negociar com Iglesias.
O Podemos não só propõe um referendo como o prevê ao abrigo do artigo 92 da atual Constituição, ou seja, sem reformar a lei fundamental, como quer o PSOE.
"A pergunta deste referendo deve ser única e clara e ter como objetivo fixar a posição da cidadania catalã sobre o futuro político da Catalunha", especifica-se no programa.
Por outro lado, o programa do Podemos também propõe uma reforma da estrutura do governo, com o vice-presidente - cargo que o Iglesias reivindica para si mesmo - a controlar toda a comunicação do executivo, o Boletim Oficial do Estado (o equivalente ao português Diário da República) e o órgão estatal de sondagens (o CIS) e, mais importante. Por último, e mais importante, na divisão de poderes, o Podemos controlaria os serviços de serviços secretos e espionagem do Estado.
Um porta-voz do PSOE já respondeu a Iglesias sobre esta proposta, afirmando que o líder do Podemos "esqueceu-se de qual é o seu lugar". Vários dirigentes socialistas têm vindo a afirmar que as posições do Podemos têm visado humilhar o PSOE e são contra-producentes no que toca a um eventual acordo.
Lusa