Mundo

Situação está a ficar "fora de controlo" na Síria

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, reconheceu hoje que a situação na Síria está a ficar "fora de controlo", ainda que os bombardeamentos das forças do regime em Alepo tenham diminuído de intensidade.

John Kerry, secretário de Estado dos EUA.
© Gary Cameron / Reuters

O chefe da diplomacia norte-americana, que se encontrou em Genebra com o enviado das Nações Unidas à Síria, Staffan de Mistura, anunciou que irá pedir ao seu homólogo russo, Serguei Lavrov, que Moscovo reforce o apelo ao restabelecimento do cessar-fogo.

"O conflito está claramente fora de controlo", declarou John Kerry, citado pela agência France Presse.

Staffan de Mistura deverá deslocar-se na terça-feira a Moscovo para se encontrar com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, com o objetivo de restabelecer o já muito débil acordo de cessar-fogo assinado no passado dia 12 de fevereiro e seriamente comprometido nos últimos dias.

Moscovo e Washington são os catalisadores do processo de paz na Síria, e, como afirmou Staffan de Mistura, se não se entenderem é muito pouco provável que aconteçam quaisquer progressos.

Aliada do Presidente Bashar al-Assad, a Rússia deu no domingo notícia da existência de conversações com o objetivo de um cessar-fogo em Alepo. Os Estados Unidos tinham antes apelado ao fim dos bombardeamentos do Governo sobre parte da segunda maior cidade síria controlada pelos rebeldes.

Após vários raides aéreos e confrontos durante a noite entre as forças do regime sírio e os rebeldes, a cidade acordou esta manhã calma, como testemunhou um repórter da AFP.

"O que está a acontecer em Alepo é uma vergonha. É uma violação dos direitos humanos. É um crime", afirmou esta manhã em Genebra, antes de se encontrar com John Kerry, o ministro dos Negócios Estrangeiros saudita, Adel al-Jubeir, acusando a Rússia e o Presidente Bashar al-Assad de violarem "todos os acordos assinados" de apoio ao processo de paz.

O secretário de Estado norte-americano disse que Washington vai pedir aos rebeldes moderados para se distanciarem da Frente Al-Nostra em Alepo, o mais importante grupo jihadista na Síria depois do Estado Islâmico (EI).

A Rússia e o Governo de Bashar al-Assad justificaram a ofensiva sobre Alepo pela presença da Al-Nosra, o braço sírio da Al-Qaeda, que não foi incluída no acordo de tréguas de 27 de fevereiro.

Moscovo anunciou no domingo a existência de "negociações ativas" para pôr fim ao recurso às armas na província de Alepo e hoje fez saber que as conversações continuam.

Em Paris, o Ministério dos Negócios Estrangeiros manifestou o apoio à organização rápida de uma reunião ministerial do grupo internacional de apoio à Síria que conduza à "reposição da trégua" e apelou aos aliados russo e iraniano de Damasco para que façam pressão sobre o regime sírio.

"A França condena veementemente os ataques do regime, que causaram numerosas vítimas", e "apela aos apoiantes do regime a assumirem as suas responsabilidades e a usarem a sua influência sobre Damasco para abandonar as armas", declarou o porta-voz do Quai d'Orsay, Romain Nadal.

A terceira ronda de negociações decorreu entre os passados dias 13 e 27 de abril em Genebra. Os principais representantes da oposição abandonaram a mesa das negociações em protesto contra a degradação da situação humanitária e as violações das tréguas.

Mistura apelou a que o cessar-fogo seja "revitalizado", com a ajuda de Washington e Moscovo, e espera lançar a quarta ronda de negociações durante o corrente mês de maio.

A guerra na Síria fez já mais de 270 mil mortos desde 2011, de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

Lusa