No relatório de 31 páginas, intitulado "Eles suportam todas as dores - o trabalho infantil perigoso no Afeganistão", denuncia-se que dezenas de milhares de crianças trabalham em empregos perigosos como na indústria dos tapetes ou são forçados a trabalhar em olarias ou em metalurgias.
Diz-se no documento que as crianças executam tarefas que podem levar a doenças, a ferimentos ou mesmo à morte, devido a condições de trabalho perigosas e má aplicação das regras de segurança e saúde.
E acrescenta-se que muitas crianças combinam a escola com o trabalho sem condições ou nem sequer vão à escola, que deixam prematuramente devido ao trabalho. Segundo o documento só metade das crianças envolvidas no trabalho infantil vai à escola.
"Milhares de crianças arriscam todos os dias a saúde e a segurança para por comida na mesa", disse Phelim Kine, um dos responsáveis para a Ásia da organização não governamental Human Rights Watch, acrescentando que o Governo do Afeganistão precisa de proteger melhor as suas crianças, fazendo cumprir a lei que proíbe que crianças executem trabalhos perigosos.
A organização internacional sobre os direitos humanos, com sede em Nova Iorque, diz que o Governo afegão falhou na proibição de trabalho infantil perigoso, parou nos esforços de dotar o país de leis nesta área de acordo com as normas internacionais, e não consegue fiscalizar a aplicação da lei, pelo que o trabalho penoso de muitas crianças passa despercebido e estas sem proteção.
Apesar de ter publicado em 2014 uma lista de 19 profissões perigosas e proibidas para crianças, como tecelagem, metalurgia ou olaria (fabricar tijolos), o Governo não conseguiu fazer cumprir a lei que criou, nomeadamente penalizando os infratores.
Um gerente de um forno de tijolo em Cabul disse à Human Rights Watch que no local trabalham crianças a partir dos oito anos, que acordam às 03:00 e que trabalham até quase à noite. "Eles queixam-se de dores, mas o que é que podemos fazer? As crianças estão aqui para ganhar a vida", disse.
A pobreza extrema no Afeganistão leva muitas vezes as crianças a fazerem trabalhos perigosos, afirma-se no documento, no qual se lembra que o país continua a ser um dos mais pobres do mundo.
A falta de terras, o analfabetismo, o elevado desemprego e o continuado conflito armado em grande parte do país são dos mais importantes fatores que contribuem para a pobreza crónica e, como resultado dela, o trabalho infantil.
Lusa