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Human Rights Watch acusa polícias e soldados de violarem refugiadas na Nigéria

A organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) acusou esta segunda-feira polícias e militares nigerianos de terem violado mulheres refugiadas em campos de acolhimento do Nordeste da Nigéria, para onde fugiram por terem sido vítimas dos 'jihadistas' do Boko Haram.

Human Rights Watch acusa polícias e soldados de violarem refugiadas na Nigéria
© Luc Gnago / Reuters

"Já é terrível que as mulheres e jovens raparigas não obtenham o apoio de que tanto precisam, depois do trauma assustador de que foram vítimas às mãos do Boko Haram", declarou Mausi Segun, investigadora da HRW, num comunicado divulgado pela organização de defesa dos direitos humanos.

"Mas é vergonhoso e escandaloso que as pessoas encarregadas de proteger estas mulheres e estas raparigas as ataquem e abusem delas", salientou.

A HRW afirma ter registado, em julho, 43 casos de mulheres e raparigas em sete campos de refugiados em Maiduguri, capital do estado de Borno (nordeste da Nigéria), vítimas de abusos sexuais por parte de responsáveis dos campos: membros das milícias de auto-defesa, polícias e soldados.

O presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, manifestou-se "preocupado e chocado" com a situação relatada pela HRW e declarou, em comunicado, que já pediu à polícia que "inicie imediatamente uma investigação" sobre este assunto.

"O bem-estar dos cidadãos nigerianos mais vulneráveis é uma prioridade deste governo", declarou o porta-voz da presidência, acrescentando que as acusações da HRW "não são levadas de ânimo leve".

O estado de Borno foi devastado pela insurreição armada islamista ultra-violenta do Boko Haram, bem como pela contra-ofensiva do exército nigeriano e da polícia. Os confrontos entre as forças governamentais e o Boko Haram já fizeram mais de 20 mil mortos e 2,6 milhões de deslocados desde 2009.

Quatro vítimas ouvidas pela HRW afirmaram ter sido drogadas e violadas. Outras 37 salientam ter sido levadas a ter relações sexuais em troca de falsas propostas de casamento ou ajuda médica e financeira.

"Várias destas vítimas declararam ter sido abandonadas quando ficaram grávidas. Em seguida, elas e os seus filhos sofreram discriminações, abusos e foram estigmatizados pelos outros habitantes do campo", realçou a HRW, dando como exemplo uma rapariga de 17 anos, que engravidou depois de ter sido violada por um polícia.

"Um dia ele pediu-me para ter relações sexuais com ele. Recusei, mas ele forçou-me. Não aconteceu mais do que uma vez, mas fiquei grávida. Quando lhe falei disso, ele ameaçou matar-me se dissesse a alguém. Fiquei aterrorizada e não apresentei queixa", contou.

Lusa