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Turquia inicia julgamento de mais de 200 suspeitos do fracassado golpe 

O processo de mais de 200 presumíveis instigadores do fracassado golpe militar de 15 de julho de 2016 foi esta segunda-feira iniciado sob fortes medidas de segurança numa prisão perto de Ancara.

Entre as 221 pessoas em julgamento no decurso deste processo, a maioria são militares, incluindo 26 generais, e 12 civis. Atualmente, 200 pessoas estão sob detenção provisória, nove vão comparecer em liberdade e 12 estão em fuga, precisou a agência pró-governamental Anadolu.

No início deste processo, dezenas de manifestantes concentraram-se hoje no exterior do estabelecimento prisional para exigir a aplicação da pena de morte.

Os mais de 200 indiciados são designadamente acusados de "violação da Constituição", "assassínio de 250 pessoas" e "pertença e liderança de uma organização terrorista", e arriscam diversas condenações a prisão perpétua.

O processo decorre na prisão de Sincan, perto de Ancara, onde foi construída uma enorme sala de audiências para receber os processos de grande dimensão relacionados com o falhado golpe.

O antigo chefe da Força Aérea, Akin Öztürk, um dos mais destacados militares sob detenção, foi o primeiro a exprimir-se, e negou todas as acusações.

"Os comandantes que me formaram e os meus companheiros de armas sabem-no bem, não participei neste golpe de Estado e não tinha qualquer informação a esse propósito", assinalou desde a barra dos acusados, acrescentando que "estas acusações de traição são para mim a maior das punições".

Entre os outros acusados de primeiro plano incluem-se o antigo general Mehmet Disli, irmão de um deputado do AKP, o partido no poder, ou o coronel Ali Yazici, antigo ajudante-de-campo militar do Presidente Recep Tayyip Erdogan.

A pena capital foi abolida no âmbito da candidatura turca à União Europeia. Após o golpe falhado, o Presidente turco assegurou por diversas vezes estar disposto a restabelecê-la, referindo-se inclusive a um potencial referendo sobre esta questão.

A tentativa de golpe de Estado de 15-16 de julho de 2016 provocou perto de 250 mortos, sem contar com os militares "golpistas", e milhares de feridos.

Ancara acusa Fethullah Gülen, um clérigo islamita exilado nos Estados Unidos desde 1999, de ser o cérebro do golpe fracassado, e tem solicitado com regularidade a Washington a sua extradição.

Gülen, um antigo aliado de Erdogan, tem desmentido qualquer participação no golpe.Segundo a ata de acusação, mais de 8.000 militares estiveram envolvidos na tentativa de golpe, tendo sido utilizados 35 aviões de guerra, 74 tanques, 246 veículos blindados e perto de 4 mil armas ligeiras, referiu a Anadolu.

Os procedimentos judiciais desencadeados após o golpe abortado são de uma amplitude sem precedentes na Turquia, com cerca de 50 mil pessoas detidas na sequência das purgas desencadeadas após o 15 de julho e a instauração do estado de emergência, que se mantém.

Cerca de 140 mil pessoas terão sido afastadas das suas funções, em particular na administração pública, ensino, forças armadas, sistema judicial e nos media.

Lusa