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Polícia apreende 10 milhões de boletins de voto para referendo catalão

A polícia espanhola confiscou esta quarta-feira nos arredores de Barcelona cerca de 10 milhões de boletins de voto que o Governo regional da Catalunha pretendia utilizar no referendo de 1 de outubro, considerado ilegal pelas instituições espanholas.

Polícia apreende 10 milhões de boletins de voto para referendo catalão
Albert Gea

O Ministério do Interior (Administração Interna) espanhol informou que a polícia também apreendeu cartazes e documentos que iam ser utilizados nas assembleias de voto num armazém situado numa povoação dos arredores da capital da Comunidade Autónoma da Catalunha.

A operação fez parte de uma outra mais ampla, levada a cabo esta manhã, quando a polícia revistou uma série de edifícios do Governo regional e deteve 14 pessoas alegadamente envolvidas na preparação do referendo marcado contra a vontade de Madrid.

A Catalunha tem 7,5 milhões de habitantes, cerca de 5,5 dos quais podem exercer o direito de voto.

O presidente do executivo regional (Generalitat), Carles Puigdemont, já acusou Madrid de atuar com uma "atitude totalitária" e assegurou que irá manter os preparativos do referendo de autodeterminação.

Por seu lado, o chefe do Governo espanhol, Mariano Rajoy, justificou a ação da polícia com a aplicação das leis e o Estado de direito.

Mariano Rajoy insistiu que a operação foi decidida pelo poder judicial para garantir o cumprimento da lei, tendo apelado ao respeito pelo Estado de direito.

Os acontecimentos desta manhã em Barcelona são o último episódio da tensão crescente entre Madrid e os separatistas da Catalunha.

Depois de os órgãos de comunicação social noticiarem as buscas e detenções, várias centenas de pessoas juntaram-se e manifestaram a sua oposição à atuação da polícia.

Mariano Rajoy reuniu-se separadamente ao final da manhã com os líderes do PSOE (socialistas) e dos Cidadãos (liberais), partidos que estão contra o movimento separatista e apoiam, em termos gerais, a posição do Governo central, para os informar da evolução da situação.

O Tribunal Constitucional espanhol suspendeu no início do mês, como medida cautelar, todas as leis regionais aprovadas pelo Parlamento e pelo Governo da Catalunha que davam cobertura legal ao referendo de autodeterminação convocado para 1 de outubro próximo.

Os partidos separatistas têm uma maioria de deputados no parlamento regional da Catalunha desde setembro de 2015, o que lhes deu a força necessária, em 2016, para declararem que iriam organizar este ano um referendo sobre a independência, mesmo sem o acordo de Madrid.

Os independentistas defendem que cabe apenas aos catalães a decisão sobre a permanência da região em Espanha, enquanto Madrid se apoia na Constituição do país para insistir que a decisão sobre uma eventual divisão do país tem de ser tomada pela totalidade dos espanhóis.

O conflito entre Madrid e a região mais rica de Espanha, com um PIB superior ao de Portugal, cerca de 7,5 milhões de habitantes, um terço da área de Portugal, uma língua e culturas próprias, arrasta-se há várias décadas.

Lusa