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Milhares de nicaraguenses fazem "mãe de todas as marchas" contra Presidente

A designada "mãe de todas as marchas" na Nicarágua, em protesto contra o Presidente Daniel Ortega, iniciou-se esta quarta-feira em Manágua com milhares de pessoas que apoiam as mães das dezenas de mortos nas manifestações contra o Governo.

Milhares de nicaraguenses fazem "mãe de todas as marchas" contra Presidente
Bienvenido Velasco Blanco

A marcha coincide com o Dia das Mães, que se celebra em 30 de maio na Nicarágua, mas parte da população nicaraguense decidiu não festejar este ano devido às vítimas nos recentes confrontos, pelo menos 76 segundo a Comissão Interamericana de direitos humanos (CIDH).

Camponeses do norte, sul e sudeste do país decidiram juntar-se ao protesto nacional, e foram recebidos como heróis em Manágua. Dezenas de camiões, autocarros e veículos particulares estavam a dirigir-se para a capital Manágua, entre aplausos de populares, refere a agência noticiosa Efe.

A marcha integra o designado Movimento Mães de Abril, que integra as mulheres que perderam os seus filhos durante os protestos. Os manifestantes dirigiam-se para o centro da capital com bandeiras azuis e brancas da Nicarágua, e na maioria estavam vestidos de branco ou preto, numa alusão à paz e ao luto pelos mortos, na maioria estudantes.

A manifestação é apoiada pelo setor privado, estudantes universitários, trabalhadores, setor académico e organizações da sociedade civil, precisa a Efe.

Em paralelo, milhares de apoiantes da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN, no poder) também se estão a concentrar hoje numa avenida de Manágua numa iniciativa em defesa "da revolução, da Constituição e da paz".

Trabalhadores estatais, a Juventude Sandinista, e apoiantes do governo celebraram o Dia das Mães Nicaraguenses com cânticos, numa concentração onde se incluíam mães dos "heróis e mártires" que perderam a vida no decurso da revolução popular armada que derrubou a ditadura de Somoza em julho de 1979.

Simpatizantes da FSLN exibiam cartazes com as palavras de ordem "O poder do povo não se negoceia", "Queremos paz", "Não à violência" ou "Amor À Nicarágua", numa alusão aos protestos que decorrem no país há 43 dias.

Neste contexto, o empresário nicaraguense Carlos Pellas, definido como o homem mais rico do país centro-americano, defendeu hoje a antecipação das eleições presidenciais, previstas para 2021.

A sua posição assinala uma viragem no tradicional apoio de Pellas, e dos meios empresariais em geral, ao Presidente Daniel Ortega, um ex-guerrilheiro de 72 anos.

"Na minha perspetiva, e com um amplo apoio do setor privado, é necessário encontrar uma saída organizada, no quadro constitucional, que implica reformas, incluindo uma eleição [presidencial] antecipada na Nicarágua", declarou Pellas em entrevista ao diário La Prensa.

A Nicarágua atravessa uma crise política e social iniciada em 18 de abril com protestos contra uma reforma da segurança social e que prosseguiu devido à morte de dezenas de pessoas após a intervenção das forças policiais.

Lusa