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Fotógrafo na origem da crise na Academia Sueca acusado de violação

O fotógrafo Jean-Claude Arnault, que tem estado no centro da crise na Academia Sueca, por denúncias de assédio sexual, foi acusado de dupla violação de uma mulher, em 2011.

Fotógrafo na origem da crise na Academia Sueca acusado de violação

A procuradora-geral sueca, Christina Voigt, disse que as provas "são fortes e suficientes" para dar continuidade ao processo, referindo um testemunho indireto que corrobora a história da vítima, notícia a AFP.

Arnault é casado com a poetisa Katarina Frostenson, membro da Academia, que fazia parte do conselho que decide a atribuição do Nobel da Literatura.

Frostenson foi obrigada a demitir-se, no passado mês de abril. Nascido em Marselha há 71 anos, o fotógrafo Jean-Claude Arnault é também diretor do Forum -- Nutidsplats för kultur (Forum para a cultura atual, em tradução livre), em Estocolmo, subvencionado pela Academia.

Arnault foi uma das personalidades mais influentes da cena cultural sueca, quando, em 2008, venceu o Prémio Natur & Kultur.

Segundo a agência francesa de notícias, que consultou o processo que hoje deu origem a acusação, a violação ocorreu num apartamento em Estocolmo, no dia 04 de outubro de 2012, e uma outra vez, na noite de 02 para 03 de dezembro desse ano, enquanto a mulher dormia.

O escândalo rebentou em novembro do ano passado, quando o jornal Dagens Nyheter publicou uma denúncia anónima de 18 mulheres, sobre abusos e agressões sexuais, contra Jean-Claude Arnault.

O fotógrafo é suspeito de ter importunado mulheres que pertencem à Academia, assim como mulheres e filhas de académicos, e de deixar "escapar" o nome de vários vencedores do Prémio Nobel, além, de ter recebido, ao longo dos anos, centenas de milhares de euros de subvenções da organização, que, entretanto, cortou a ligação que tinha com o Forum de Arnault.Arnault negou todas as acusações.

O escândalo tornou-se, todavia, assunto de Estado e obrigou o rei Carlos Gustavo XVII, patrocinador da Academia, a sair da habitual reserva, revelando as ligações estreitas da instituição com o fotógrafo.

A academia cortou, entretanto, todas as ligações a Arnault e encomendou uma auditoria independente sobre as suas relações com a instituição, admitindo a descoberta de um "comportamento inaceitável na forma de intimidade indesejada", que ocorrera na academia.

Apesar de a investigação ter concluído que esse comportamento "não foi de conhecimento geral", na instituição, divergências internas quanto às medidas a adotar desencadearam, porém, demissões, acusações e saídas de vários membros, entre os quais o da secretária permanente, Sara Danius, professora da Universidade de Uppsala, além de Katarina Frostenson.

Composto por 18 membros, o conselho viu-se reduzido a menos de 12 elementos ativos, os necessários para eleger novos membros.

No passado dia 04 de maio, na sequência dos acontecimentos, a Academia Sueca anunciou que não entregaria o Nobel da Literatura em 2018.

No final do maio, o diretor executivo da Fundação Nobel, Lars Heikensten, em entrevista publicada no próprio 'site' da organização, admitiu a possibilidade de o Prémio Nobel de Literatura também não ser atribuído em 2019, a menos que fosse restabelecida a confiança na Academia.

Em dezembro, a Academia Sueca já tinha proibido a presença de Jean-Claude Arnault no banquete do Nobel, e contratara advogados para investigar as alegações de má conduta sexual, surgidas na imprensa.

O fotógrafo franco-sueco é também suspeito de violar regras centenárias do Nobel, ao divulgar antecipadamente nomes dos vencedores dos galardões.

Segundo a AP, estas "fugas de informação confidencial" ter-se-ão iniciado em 1996, e aconteceram pelo menos sete vezes.

No ano passado, após as primeiras alegações, a Academia cancelou o financiamento anual ao centro de Arnault.

O julgamento de Arnaut, não tem ainda data marcada, segundo a AFP.