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Populismo em ascensão na Europa: um em quatro europeus vota num partido populista

O populismo está a aumentar na Europa, com os partidos populistas a ver triplicado o número de votos nas últimas duas décadas. A conclusão é de uma investigação do jornal britânico The Guardian. Portugal parece estar (ainda) imune a tendências populistas, mas o perigo existe.

Encontro de líderes de partidos de extrema-direita europeus, da esquerda para a direita: alemã Frauke Petry da Alternativa para a Alemanha (AfD), francesa Marine Le Pen da Frente Nacional, italiano Matteo Salvini da Liga do Norte, holandês Geert Wilders do Partido para a Liberdade (PVV), austríaco Harald Vilimsky do Partido Liberdade (FPOe) e eurodeputado alemão Marcus Pretzell
Encontro de líderes de partidos de extrema-direita europeus, da esquerda para a direita: alemã Frauke Petry da Alternativa para a Alemanha (AfD), francesa Marine Le Pen da Frente Nacional, italiano Matteo Salvini da Liga do Norte, holandês Geert Wilders do Partido para a Liberdade (PVV), austríaco Harald Vilimsky do Partido Liberdade (FPOe) e eurodeputado alemão Marcus Pretzell
Wolfgang Rattay / Reuters

O populismo tem tido um crescimento consistente na Europa pelo menos desde 1998, sobretudo à direita, com os partidos políticos a obterem o triplo dos votos. O suficiente para colocarem os seus líderes em cargos governamentais em 11 países, "desafiando a ordem política estabelecida na Europa", escreve o The Guardian.

O jornal britânico realizou uma extensa análise aos partidos populistas e seu desempenho nas eleições nacionais em 31 países europeus nos últimos 20 anos, numa investigação conjunta com 30 especialistas em Ciência Política, liderada pelo sociólogo político da Universidade de Amesterdão Matthijs Rooduijn.

"Não há muito tempo, o populismo era um fenómeno das franjas políticas. Hoje está a tornar-se cada vez mais a corrente principal", afirma, dando exemplos: "alguns dos mais recentes desenvolvimentos políticos como o Brexit ou a eleição de Donald Trump não podem ser compreendidos se não tivermos em consideração a ascensão do populismo".

The Guardian

Amnistia Internacional alerta para "laivos" de populismo em Portugal

O diretor da Amnistia Internacional Portugal, Pedro Neto, alertava na semana passada em entrevista à agência Lusa, para a presença do discurso de ódio em Portugal, "já há laivos de populismo, que está a ver se consegue ganhar tração e fazer caminho. Já está cá e é preciso que as pessoas estejam muito atentas para não se deixarem enganar", disse, manifestando preocupação com "todo este discurso de ódio, de notícias falsas e da escalada da violência verbal nas redes sociais".

"As pessoas já têm consciência de que os direitos humanos são assuntos de todos, todos os dias, mas há interesses que procuram manipular a opinião pública e conseguem fazê-lo muito rapidamente através das redes sociais. Isso é preocupante. Há interesses não condizentes com os direitos humanos a quem interessa demonizar os direitos humanos e quem os defende" para conseguir avançar as suas ideias, alertou.

Numa entrevista a propósito dos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que se assinalam a 10 de dezembro, Pedro Neto sustentou que existe entre os portugueses "muita consciência" da importância dos direitos humanos, mas ressalvou que, nos casos do discurso de ódio, de interferência em eleições e do populismo, as pessoas acham ainda que só acontece em países como os Estados Unidos, a Rússia ou o Brasil.

Eleições europeias dentro de seis meses

Este estudo surge a seis meses das próximas eleições para o Parlamento Europeu, que vão decorrer entre 23 e 26 de maio. Especialistas prevêem a grande probabilidade da eleição de mais elementos de partidos populistas de extrema-direita na câmara de 751 representantes europeus.

De 7% dos votos em 1998 a 25% em 2018

O populismo começa a "faiscar" na Europa no final dos anos 1990, desenvolve-se no Leste nos anos 2000, expande-se para norte no rescaldo da crise financeira e tem feito uma grande incursão na Europa ocidental nos últimos três anos.

Os populistas de esquerda, que na Europa têm sido menos bem-sucedidos que os de direita, viram a sua votação aumentar em eleições nacionais, o que lhes permitiu desafiar os partidos tradicionais, como é o caso, aponta o estudo, do Podemos, em Espanha ou o França Insubmissa.

"Há três razões principais para o aumento acentuado do populismo na Europa", explica Cas Mudde, professor de Relações Internacionais na Universidade da Geórgia. "A recessão, que criou alguns partidos populistas de esquerda fortes no sul, a chamada crise dos refugiados, que foi um catalisador para os populistas de direita, e finalmente a transformação de partidos não-populistas em partidos populistas, como o Fidesz (na Hungria) e o Lei e Justiça (na Polónia)".

Populismo

1.simpatia pelo povo

2.POLÍTICA doutrina ou prática política que procura ganhar vantagens como apelo a reivindicações ou preconceitos amplamente disseminados entrea população, geralmente fazendo a distinção entre dois gruposantagónicos: um, virtuoso e maioritário – o povo – que exalta e dizdefender; outro, minoritário e apontado como fonte dos problemasgerais, que pretende combater

3.POLÍTICA doutrina ou regime, geralmente de carácter paternalista,assente na ideia de que a liderança política deve ser exercida em estreitaligação com o povo, sem a intermediação de partidos

in Infopédia