Francisco exprimia-se no Vaticano depois da oração do 'Angelus', antes de embarcar num avião para os Emirados Árabes Unidos - que têm sido o principal aliado da Arábia Saudita na guerra no Iémen -- evitando desta forma constranger os seus anfitriões com um apelo público sobre este assunto enquanto estiver na região.
"Lanço um apelo a todas as partes envolvidas e à comunidade internacional para favorecerem de modo urgente o respeito dos acordos estabelecidos, assegurarem a distribuição de cuidados e trabalharem para o bem da população", declarou.
O Papa afirmou ainda que segue a crise humanitária no Iémen "com grande preocupação" e lamentou que neste país existam muitas "crianças que têm fome e têm sede, não têm medicamentos e tenham a sua vida em perigo".
"A população está esgotada pelo demorado conflito e muitas crianças padecem de fome, mas não é possível aceder às lojas de alimentos. O grito destas crianças e dos seus pais eleva-se perante Deus", afirmou.
Francisco viaja para Abu Dhabi para participar numa conferência sobre o diálogo inter-religioso, uma iniciativa patrocinada pelo Conselho de Anciãos Muçulmanos, com sede nos Emirados, que visa combater o fanatismo religioso e promover uma postura moderada do Islão.
A ideia partiu do xeque Ahmed el-Tayeb, o grande imã da mesquita egípcia de Al-Azhar, a reverenciada sede de mil anos do islamismo sunita que treina clérigos e estudiosos de todo o mundo.
Num comunicado divulgado no sábado, a Mesquita Al-Azhar descreveu a reunião como "histórica" e elogiou a "relação profundamente fraternal" entre o imã e o Papa, que até inclui saudações de aniversário.
Por seu lado, numa mensagem de vídeo para os Emirados, na véspera de sua viagem, Francisco prestou homenagem ao seu "amigo e querido irmão" el-Tayeb e elogiou a sua coragem em convocar a reunião para afirmar que "Deus une e não se divide".
O Papa deve ter um encontro privado na segunda-feira com o príncipe herdeiro de Abu Dhabi, Mohammed ben Zayed Al-Nahyane, homem forte dos Emirados, durante o qual o sumo pontífice católico poderá abordar a situação no vizinho Iémen.
O chefe dos observadores da ONU em Hodeida reuniu hoje os representantes do Governo e dos rebeldes iemenitas num barco para tentar fazer aplicar um acordo de tréguas nesta cidade portuária, que é o principal ponto de entrada de importações e de ajuda humanitária no país.
O conflito no Iémen já matou pelo menos 10 mil pessoas desde que uma coligação militar liderada por Riade interferiu, em março de 2015, para apoiar o Governo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Grupos de defesa dos direitos humanos afirmam que o número de mortos é largamente superior, apontando um balanço cinco vezes mais elevado.
A guerra colocou milhões de iemenitas à beira da fome no que as Nações Unidas chamam de pior crise humanitária do mundo.
Lusa