O Presidente turco Recep Tayyip Erdogan já fez saber que quer mais que a derrota dos curdos e o controlo de uma vasta faixa de território na fronteira com a Síria. Quer que a Turquia tenha armas nucleares. Embora bombásticas, as declarações (ainda) não passaram de palavras ameaçadoras, já que não falou sobre planos concretos.
Nas semanas que conduziram à ofensiva contra os curdos no sudoeste da Turquia, nordeste da Síria, Erdogan declarou a viva voz a sua ambição:
"Alguns países têm mísseis com ogivas nucleares. Mas o Ocidente insiste que nós não podemos tê-los. Isto é inaceitável", disse num encontro do seu partido AKP em setembro.
Apontando o dedo a Israel, Erdogan disse que queria a mesma "proteção".
"Temos Israel aqui ao lado, somos quase vizinhos. Eles assustam [outras nações] porque as têm [armas nucleares]. Niguém pode tocar-lhes".
A Turquia assinou o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (de 1968) em 1980, bem como o Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares de 1996, que proíbe detonações nucleares.
Confronto aberto com a NATO
Com a Turquia agora em confronto aberto com os seus aliados da NATO, ao lançar a ofensiva militar contra os curdos e que poderá conduzir a uma incursão na Síria, a ameaça de Erdogan assume um novo significado, avisa hoje o The New York Times.
Se os Estados Unidos não conseguiram impedir o líder turco de derrotar os seus aliados curdos, como poderá impedi-lo de construir uma arma nuclear ou copiar o Irão e conseguir a tecnologia para a construir?, questiona o jornal norte-americano.
Esta não foi a primeira vez que Erdogan mencionou romper o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, mas ninguém tem a certeza das suas reais intenções. "Há anos que os turcos dizem farão o que o Irão fizer", comentou John J. Hamre, ex-vice-secretário da Defesa norte-americano e atual diretor do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington. "Mas agora é diferente. Erdogan acaba de facilitar a retirada dos EUA da região".
"Talvez ele queira mostrar que, como os iranianos, está a pouca distância do golo - que pode conseguir uma arma nuclear a qualquer momento", disse Hamre.
Se for esse o caso, Erdogan está bem encaminhado - com um programa nuclear mais adiantado que o da Arábia Saudita, mas ainda muito atrás do que o Irão já alcançou.
Os especialistas duvidam que Erdogan consiga montar uma arma nuclear em segredo, no entanto, a Turquia já possui os ingredientes necessários para um programa nuclear: depósitos de urânio e reatores de pesquisas – sem falar em misteriosas ligações com o mais famoso negociante do mercado negro nuclear, o paquistanês Abdul Qadeer Khan.
Além disso, com a ajuda da Rússia, está a construir a sua primeira grande central nuclear para gerar eletricidade. O reator iraniano de Busheht também foi construído pela Rússia.