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Nancy Pelosi rasga o discurso de Trump

Uma vez, duas, três, quatro vezes. "Era um manifesto de inverdades".

Nancy Pelosi rasga o discurso de Trump

A presidente da Câmara dos Representantes Nancy Pelosi manifestou o seu desacordo em relação às palavras do Presidente dos EUA rasgando os papéis do discurso no final de proferido, esta madrugada no Capitólio

Terminado o discurso de Trump sobre o Estado da União, Pelosi, que estava atrás, de pé e ao lado do vice-presidente Mike Pence como é costume, ostensivamente foi rasgando as várias páginas do documento. Por quatro vezes.

À saída da sala, questionada por um jornalista sobre a razão de tal gesto, Pelosi respondeu:

"Porque era a coisa mais cortês a fazer em comparação com as alternativas".

E disse mais aos jornalistas presentes no Capitólio:

"Era um manifesto de inverdades".

Segundo uma pessoa próxima de Pelosi, o ato não foi planeado.

No site oficial da presidente da Câmara dos Representantes foi publicada a declaração sobre o discurso de Trump.

MICHAEL REYNOLDS / EPA

A Casa Branca reagiu no Twitter.

"A líder da Câmara dos Representantes acabou de rasgar: um dos nossos últimos sobreviventes Tuskegee Airmen (veterano da II Guerra Mundial), a sobrevivência de uma criança nascida às 21 semanas, as famílias em luto por Rocky Jones e Kayla Mueller (morta pelos fundamentalistas do grupo extremista Daesh na Síria), o reencontro com a família de um soldado. Este é o seu legado".

A reunião institucional anual perante a Câmara dos Deputados e o Senado inteiro começou com outra cena que resume bem a divisão da classe política americana: Donald Trump não correspondeu ao aperto de mão de Nancy Pelosi, quebrando uma tradição.

Durante todo o discurso de Trump, Pelosi sacudiu várias vezes a cabeça para expressar a sua desaprovação. Os democratas presentes mantiveram-se sempre sentados durante as ovações de pé dos republicanos.

MICHAEL REYNOLDS / EPA

Um discurso cheio de auto-elogios e críticas veladas a Obama

"Os anos de decadência económica terminaram. Os dias daqueles que usavam o nosso país, aproveitavam-se dele, estando até desacreditado junto de outras nações, ficaram para trás", declarou Donald Trump, na terça-feira, num discurso recheado de críticas à administração de Barack Obama (2009-2017), que não mencionou, e que deixou entusiasmados republicanos, mas não democratas.

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Para Trump, se "as políticas económicas falidas do Governo anterior" não tivessem sido revertidas, "o mundo agora não estava a ver esse grande êxito económico", com criação de emprego, descida de impostos e de luta "por acordos comerciais justos e recíprocos".

"A nossa agenda é implacavelmente pró-trabalhadores, pró-família, pró-crescimento e, sobretudo, pró-Estados Unidos", sublinhou o chefe de Estado norte-americano, acrescentando ter dado início, há três anos, "ao grande regresso" do país.

"Inacreditavelmente, a taxa média de desemprego durante o meu Governo é menor do que durante qualquer outra administração na história do nosso país".

Sobre o comércio, um dos pilares da administração Trump, o Presidente dos Estados Unidos afirmou ter prometido aos cidadãos norte-americanos que ia impor "taxas alfandegárias à China para resolver o roubo maciço de empregos", proclamando: "A nossa estratégia funcionou".

Depois de quase 18 meses de "guerra" comercial, Trump assinou em dezembro uma trégua parcial com Pequim.

O Presidente norte-americano falou ainda da substituição do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA, na sigla em inglês), assinado com o México e o Canadá durante a presidência de Bill Clinton, pelo renegociado T-MEC.

"Muitos políticos vieram e foram com a promessa de mudar ou substituir o NAFTA, mas no fim não fizeram absolutamente nada. Ao contrário de muitos outros antes de mim, eu cumpro as minhas promessas".

Trump promete mais 805 quilómetros de muro de separação com o México

Já foram concluídos mais de 165 quilómetros de muro e "haverá mais" 805 quilómetros construídos "no início do próximo ano", declarou Donald Trump sobre o projeto de combate à entrada de imigrantes ilegais pela fronteira sul dos Estados Unidos.

Por outro lado, o chefe de Estado norte-americano disse apoiar "as esperanças" de cubanos, nicaraguenses e venezuelanos "para restaurar a democracia" nos seus países.

"À medida que restauramos a liderança dos Estados Unidos no mundo, continuamos a apoiar a liderdade no nosso hemisfério. É por isso que a meu Governo revogou as políticas falidas da administração anterior sobre Cuba. Estamos a apoiar as esperanças de cubanos, nicaraguenses e venezuelanos para restaurar a democracia".

No mesmo discurso, Trump aproveitou para prestar homenagem ao líder opositor da Venezuela Juan Guaidó, presente no Capitólio, prometendo "esmagar a tirania" do regime de Nicolás Maduro.

"Maduro é um dirigente ilegítimo, um tirano que trata o seu povo com brutalidade. Mas o seu mandato de tirania será esmagado e destruído". "Connosco na galeria está o presidente legítimo da Venezuela Juan Guaidó. Todos os norte-americanos estão unidos com o povo venezuelano na justa luta pela liberdade".

SHAWN THEW / EPA

Juan Guaidó é reconhecido como presidente interino por mais de 50 nações, incluindo Portugal, depois de o líder da oposição se ter autoproclamado presidente interino da Venezuela em 23 de janeiro de 2019.

Com agências