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Justiça britânica dá como provadas ameaças e sequestros ordenados pelo emir do Dubai

Princesa Haya vence disputa em tribunal contra o ex-marido e consegue a guarda dos dois filhos.

Justiça britânica dá como provadas ameaças e sequestros ordenados pelo emir do Dubai
Christopher Pike

Um tribunal do Reino Unido deu esta quinta-feira como provadas as ameaças do emir do Dubai, o xeque Mohammed bin Rashid Al Maktoum, contra a princesa Haya e os seus planos de rapto de duas filhas de outro casamento.

A princesa Haya, da Jordânia, de 45 anos, filha do falecido rei Hussain, casou-se com o xeque Mohammed, de 70 anos, em 2004, tornando-se a sexta e mais nova das suas esposas. Em abril de 2019, a princesa divorciou-se do emir do Dubai e fugiu para o Reino Unido com os dois filhos, um de sete e outro de 11 anos. Desde então, foi alvo de ameaças que a fizeram temer pela sua própria segurança e pela dos filhos, que poderiam ser sequestrados e devolvidos à força ao emir do Dubai.

Sabe-se que em maio de 2019, o xeque Mohammed Al-Maktoum disse: "Tu e as crianças nunca estarão a salvo na Inglaterra", num poema que publicou nas redes sociais, intitulado "Tu viveste, tu morreste". Utilizou ainda os contactos na imprensa britânica para gerar uma série de artigos negativos sobre a princesa Haya que, segundo o tribunal, se tornou-se numa campanha de "intimidação".

Duas princesas privadas da liberdade

Depois de ouvidas as testemuhas, o tribunal considerou ainda que o xeque Mohammed é também responsável pelo sequestro e retorno forçado de duas das suas filhas de outro casamento ao Dubai.

No verão de 2000, a princesa Shamsa aproveitou umas férias no Reino Unido para fugir do regime. Porém, foi raptada nas ruas de Cambridge e levada à força, num jato privado para o país. Já a princesa Latifa, cujo caso se tornou mediático devido a um vídeo feito pela própria a expor a repressão de que era alvo, tentou fugir no Dubai em 2002 e 2018. No vídeo começou por se apresentar e dizer: "Este vídeo pode salvar a minha vida e se o estão a ver é porque estou morta ou numa situação muito difícil", revelou.

"Não sei o que o meu pai me pode fazer. Ele é pura maldade. É responsável pela morte de muitas pessoas. A sua imagem de homem de família é um mero exercício de relações públicas", prosseguiu. No vídeo de mais de meia hora, a "princesa" do Dubai diz que tentou fugir do país em 2002, quando tinha 16 anos e que acabou por ser apanhada e durante o processo foi torturada e drogada, segundo conta.

Na última tentativa de fuga, Latifa foi foi recapturada no mar, na costa indiana, e voltou à força para Dubai, onde permanece em prisão domiciliar.

Os Emirados Árabes Unidos negam qualquer responsabilidade nos dois casos. Contudo, e apesar colocar em causa as relações diplomáticas entre os Emirados Árabes Unidos, o tribunal do Reino Unido deu como provado os raptos, que diz terem sido planeados e ordenados pelo líder do Dubai.