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Pandemia e injustiça racial fazem homicídios disparar nos EUA em 2020

Estudo incidiu sobre as percentagens de criminalidade de 34 cidades norte-americanas.

Pandemia e injustiça racial fazem homicídios disparar nos EUA em 2020

Os homicídios nos Estados Unidos da América (EUA) aumentaram dramaticamente no último ano e uma investigação aponta a pandemia e a injustiça racial como os principais fatores.

De acordo com um relatório divulgado pela Comissão Nacional sobre a covid-19 e a Justiça Criminal, feito em parceria com a organização filantrópica Arnold Ventures, sediada em Houston (Texas), os homicídios aumentaram 30% entre 2019 e 2020. Este estudo incidiu sobre as percentagens de criminalidade de 34 cidades norte-americanas.

Entre as 34 cidades estudadas, 29 aumentaram as percentagens de homicídios de um ano para o outro. Milwaukee (Wisconsin) registou um aumento de 85%, Seattle (Washington) contabilizou um aumento de 63%, Chicago (Illinois) de 55% e Nova Iorque de 43%.

A pandemia da doença provocada pelo SARS-CoV-2, que assola o mundo e, em particular, os EUA há quase um ano, e também a injustiça racial são apontados como os principais fatores no aumento exponencial de homicídios no país.

Por isso, os investigadores exortam para a urgência de duas medidas: o fomento das relações entre as forças de seguranças e as comunidades e a expansão de iniciativas contra a violência.

Richard Rosenfeld, um criminologista da Universidade do Missouri -- Saint Louis e um dos autores deste estudo, explicitou que a polícia foi obrigada a 'sair das ruas' por causa da pandemia, uma vez que ou os agentes contraíram a covid-19 ou ficavam em casa para evitar a exposição a colegas infetados.

Os elementos das forças de segurança que não estavam em casa também tinham a capacidade de intervenção diminuída por causa da necessidade de distanciamento físico, que impediu a interação de proximidade com as comunidades, acrescentou o investigador.

"Isto reduziu bastante a habilidade da polícia de se empenhar de uma maneira proativa no policiamento que reduz o crime", sublinhou Rosenfeld em declarações à Associated Press (AP).

Saint Louis (Missouri), uma das cidades que fez parte do relatório, contabilizou 262 homicídios no último ano, o valor mais elevado desde 1993, ano em que a cidade registou 267 homicídios -- período em que a população era substancialmente maior.

O estudo dá ainda conta de que a pandemia "afetou desproporcionalmente as populações mais vulneráveis" e colocou em risco "indivíduos sobre stress físico, mental, emocional e financeiro".

O SARS-CoV-2 também colocou um 'travão' em esquadras, hospitais, tribunais e outras entidades envolvidas na resposta à criminalidade.

A homicídio de cidadãos afro-americanos -- que 'disparou' desde 2010, incluindo a morte de Michael Brown, de 18, em 2014 -- também fez contribuiu para esta percentagem elevada.

As grandes concentrações de polícias implementadas pelo executivo do antigo Presidente dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump, para responder às manifestações do movimento "Black Lives Matter" ("Vidas Negras Importam"), que reivindicava a igualdade racial, também diminuiu a presença de agentes nas comunidades, importante para a dissuasão de crimes, aponta este estudo.