As autoridades bielorrussas exibiram esta segunda-feira o jornalista Roman Protasevich numa conferência de imprensa descrita pela oposição como uma "cena kafkiana" e realizada sob "coação".
Protasevich e a sua companheira, a russa Sofia Sapega, foram presos em Minsk, em 23 de maio, após o sequestro do avião comercial da companhia aérea Ryanair pelas autoridades bielorrussas que, na altura, sobrevoava a Bielorrússia, o que gerou protestos da comunidade internacional, sobretudo a ocidental.
Roman Protasevich, de 26 anos, é o ex-chefe de redação do influente canal Nexta, que se tornou a principal fonte de informação nas primeiras semanas de protestos antigovernamentais após as eleições presidenciais de agosto de 2020, cuja vitória é reivindicada pelo Presidente, Alexander Lukashenko, e contestada pela oposição.
Desde que foi preso, Protasevich já apareceu em dois vídeos, onde admitiu os crimes, bem como numa entrevista num canal público bielorrusso.
A oposição denunciou sempre o que considera ser uma "encenação sob coação", prática muito usada pelo regime de Lukashenko.
Esta segunda-feira, Protasevich esteve presente numa conferência de imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros bielorrusso, em que afirmou estar com uma saúde "excelente" e que ninguém o está a coagir.
"Pouco importa o que ele diga. Não vamos esquecer que é um refém. E o regime está a usá-lo como troféu", reagiu, na rede social Twitter, Franak Viacorka, assessor da líder da oposição no exílio, Svetlana Tikhanovskaia.
"Isto não é uma conferência de imprensa, mas sim uma cena de Kafka ou de Orwell", acrescentou Viacorka.
Na conferência de imprensa, dois altos funcionários bielorrussos reafirmaram a versão de Minsk do redirecionamento do voo, alegando ter recebido uma ameaça espúria assinada pelo grupo palestiniano Hamas a indicar que estava uma bomba a bordo.
Vários funcionários ocidentais, incluindo a chanceler alemã, Angela Merkel, acharam essas explicações nada credíveis e acreditam que foi um subterfúgio para deter o oponente.
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