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Em lágrimas, Lula da Silva agradece ao Brasil pela reconquista do "direito de viver em democracia"

Presidente eleito do Brasil recebeu esta segunda-feira o diploma presidencial numa cerimónia que decorreu no Tribunal Superior Eleitoral.

Em lágrimas, Lula da Silva agradece ao Brasil pela reconquista do "direito de viver em democracia"
Eraldo Peres

O Presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, disse esta segunda-feira que o povo brasileiro reconquistou o direito de viver numa democracia, durante a cerimónia no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em que foi diplomado como futuro governante. Lula da Silva emocionou-se no discurso

"Este diploma que eu recebi não é um diploma do Lula Presidente, é um diploma de uma parcela significativa do povo que reconquistou o direito de viver em democracia neste país. Vocês ganharam este diploma", afirmou no início do seu discurso. "Em primeiro lugar quero agradecer ao povo brasileiro pela honra de dirigir pela terceira vez este país", acrescentou, visivelmente emocionado.

O ato confirmou a vitória do líder progressista e a do vice-presidente, Geraldo Alckmin, que agora estão habilitados a tomarem posse em 1 de janeiro de 2023, após o resultado apurado nas urnas em 30 de outubro (50,9% para Lula contra 49,1% dos votos para o Presidente cessante, Jair Bolsonaro), numa cerimónia que reuniu centenas de autoridades no TSE, em Brasília.

Ao lembrar a sua primeira cerimónia de diplomação como Presidente brasileiro, em 2002, Lula da Silva chorou e apelidou de ousadia do povo brasileiro conceder-lhe, uma pessoa que não tem diploma universitário, o diploma necessário para governar o país.

"Reafirmo esta segunda-feira que farei todos os esforços para, juntamente com meu vice, Geraldo Alckmin, cumprir o compromisso que assumi não apenas durante a campanha, mas ao longo de toda uma vida: fazer do Brasil um país mais desenvolvido e mais justo, com a garantia de dignidade e qualidade de vida para todos os brasileiros, sobretudo os mais necessitados", afirmou o Presidente eleito.

O líder progressista repetiu que considera que a democracia esteve ameaçada durante as presidenciais, salientando: "Poucas vezes na nossa história a vontade popular foi tão colocada à prova, e teve que vencer tantos obstáculos para enfim ser ouvida".

"A democracia não nasce por geração espontânea. Ela precisa ser semeada, cultivada, cuidada com muito carinho por cada um, a cada dia, para que a colheita seja generosa para todos", defendeu.

"Mas além de semeada, cultivada e cuidada com muito carinho, a democracia precisa ser todos os dias defendida daqueles que tentam, a qualquer custo, sujeitá-la a seus interesses financeiros e ambições de poder. Felizmente, não faltou quem a defendesse neste momento tão grave da nossa história", acrescentou.

Lula da Silva elogiou juízes do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que considerou terem enfrentado "toda a sorte de ofensas, ameaças e agressões para fazer valer a soberania do voto popular".

Criticando o atual Presidente, Jair Bolsonaro, sem o mencionar diretamente, Lula da Silva disse que a última eleição no Brasil não foi uma disputa entre candidatos de partidos políticos com programas distintos.

"Foi a disputa entre duas visões de mundo e de governo. De um lado, o projeto de reconstrução do país, com ampla participação popular. De outro lado, um projeto de destruição do país ancorado no poder económico e numa indústria de mentiras e calúnias jamais vista ao longo de nossa história", disparou Lula da Silva.

"Não foram poucas as tentativas de sufocar a voz do povo. Os inimigos da democracia lançaram dúvidas sobre as urnas eletrónicas, cuja confiabilidade é reconhecida em todo o mundo (...) Criaram obstáculos de última hora para que eleitores fossem impedidos de chegar a seus locais de votação. Tentaram comprar o voto dos eleitores, com falsas promessas e dinheiro farto, desviado do orçamento público", completou, referindo-se a Bolsonaro, que não reconheceu a derrota publicamente embora tenha autorizado que a sua equipa participasse e cumprisse as formalidades da transição de poder.

Lula da Silva destacou também que a democracia enfrenta um imenso desafio em todo o mundo, na América Latina, na Europa e nos Estados Unidos, onde considera que "os inimigos da democracia se organizam e se movimentam" e "usam e abusam dos mecanismos de manipulações e mentiras, disponibilizados por plataformas digitais que atuam de maneira gananciosa e absolutamente irresponsável".

Segundo o próximo chefe de Estado brasileiro, o resultado destas eleições foi uma conquista de uma frente com 12 partidos na primeira volta, aos quais se somaram mais dois na segunda etapa do sufrágio.

"Uma verdadeira frente ampla contra o autoritarismo, que hoje, na transição de governo, se amplia para outras legendas, e fortalece o protagonismo de trabalhadores, empresários, artistas, intelectuais, cientistas e lideranças dos mais diversos e combativos movimentos populares deste país", ponderou.

Por fim, Lula da Silva considerou que a democracia só tem sentido, e será defendida pelo povo, na medida em que promover, de facto, a igualdade de direitos e oportunidades para todos e todas, independentemente de classe social, cor, crença religiosa ou orientação sexual.

"É com o compromisso de construir um verdadeiro Estado democrático, garantir a normalidade institucional e lutar contra todas as formas de injustiça, que recebo pela terceira vez este diploma de Presidente eleito do Brasil -- em nome da liberdade, da dignidade e da felicidade do povo brasileiro", concluiu.