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Pelo menos 3.000 civis morreram em Myanmar desde o golpe de Estado em 2021

Os números são avançados pela Associação de Assistência aos Presos Políticos do país. Desde janeiro, pelo menos 118 civis foram mortos pelas forças da junta.

Pelo menos 3.000 civis morreram em Myanmar desde o golpe de Estado em 2021
ATHIT PERAWONGMETHA

Pelo menos 3.000 civis morreram em Myanmar (antiga Birmânia) devido à repressão dos militares desde o golpe de Estado lançado pelo exército em fevereiro de 2021, denunciou este domingo a Associação de Assistência aos Presos Políticos do país.

A 3.000.ª vítima foi identificada pela associação como uma freira chamada Sate que foi "queimada viva" na região de Sagaing. A freira não conseguiu escapar de um ataque à localidade onde vivia, Let Pan Hla, no município de Khin-U, onde os militares incendiaram todas as casas.

O balanço, divulgado pelo portal de notícias The Irrawaddy, ligado à oposição birmanesa, adianta que 1.229 pessoas, ou seja, quase 41% do total de mortes, foram assassinadas pela junta e pelas milícias paramilitares Pyu Saw Htee, da região de Sagaing.

A região vizinha, Mandalay, ficou em segundo lugar da lista de locais com maior número de vítimas, contabilizando 350 mortos, enquanto a região de Rangoon registou 316. O relatório não inclui as vítimas que lutaram contra a junta militar.

Este ano, pelo menos 118 civis foram mortos pelas forças da junta, embora a associação que ajuda os presos políticos considere que o número real é, provavelmente, muito maior.

O regime decidiu, no início de fevereiro, manter o atual estado de emergência por pelo menos mais seis meses, o que abre portas à manutenção de uma repressão que se tornou especialmente evidente nas semanas após o golpe contra o Governo da vencedora das últimas eleições reconhecidas, Aung San Suu Kyi.

Os militares tomaram à força o poder em Myanmar em 1 de fevereiro de 2021 sob o pretexto de fraude nas eleições do ano anterior, que foram esmagadoramente vencidas pelo partido pró-democracia de Aung San Suu Kyi.

Depois do golpe de Estado, a junta assegurou que organizaria novas eleições, estimando que só acontecessem em agosto de 2023, já que o país, que entrou num violento conflito civil, deveria primeiro ganhar "paz e estabilidade".

No entanto, a junta tem realizado uma repressão sangrenta contra os seus opositores, registando-se, além dos 3.000 mortos este domingo denunciados, quase 15.000 presos, segundo a organização humanitária.

Nações Unidas alertam para “regressão geral” nos direitos humanos

No final de janeiro, o alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, alertou para uma "regressão geral em termos de direitos humanos" em Myanmar durante os quase dois anos que decorreram desde o golpe de Estado de fevereiro de 2021.

Türk afirmou que o revés afeta os direitos económicos, sociais, culturais, civis e políticos dos cidadãos birmaneses e pediu às autoridades 'de facto' a libertação de todos os presos políticos, incluindo a ex-conselheira de Estado e Prémio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, como forma de resolver a crise humanitária em Myanmar.

Além do número crescente de mortos, a quantidade de pessoas que teve de deixar as suas casas por causa da repressão preocupa as Nações Unidas: 1,2 milhões permanecem deslocadas dentro do país e outras 700.000 tiveram de deixar Myanmar nos últimos dois anos.

A este número somam-se os milhões de muçulmanos da etnia rohingya que fugiram do país nas últimas décadas devido à perseguição de que são alvo, recordou a agência.

As Nações Unidas referiram ainda que há muitas infraestruturas danificadas, dando como exemplo os mais de 34.000 edifícios públicos, hospitais, escolas e locais de culto que foram incendiados.

O alto-comissário pediu também que os responsáveis por todos estes atos sejam levados à justiça por violações diárias dos direitos humanos, exigindo ainda uma supervisão "real e efetiva" das forças armadas birmanesas.